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Para mudar a composição corporal, não foque no peso

Médico endocrinologista, Guilherme Renke critica a desvalorização do trabalho dos nutricionistas e explica por que nenhuma dieta faz milagre se não houver uma mudança no estilo de vida

Sabemos que o sobrepeso e a obesidade estão associados ao aumento da morbidade e mortalidade de várias condições crônicas. Mesmo pequenas perdas de peso (por exemplo, menos 3% a 5% do peso corporal) podem ter benefícios importantes para a saúde dessas pessoas. No entanto, sabemos que grande parte da população não tem acesso aos nutricionistas, e os médicos da atenção primária muitas vezes não aconselham os pacientes sobre o peso devido ao tempo, treinamento etc. Temos um grande problema de saúde pública que não fornece condições ideais para o trabalho dos médicos de família ou clínicos e, ainda, desvaloriza o trabalho do nutricionista.

Nenhum tratamento médico ou medicamento causa um rebote no reganho de peso se houver uma grande mudança no estilo de vida do paciente — Foto: Internet

Estudos têm demonstrado que programas envolvendo intervenções de estilo de vida podem ajudar as pessoas a alcançar e manter a perda de peso. No entanto, no cenário de saúde pública isso praticamente inexiste no Brasil. O nutricionista é o profissional chave no tratamento desses pacientes, que deve ser feito de forma intermitente com consultas periódicas. Durante um tratamento para o sobrepeso, as condutas nutricionais podem variar muito e estratégias diferentes podem ser usadas com o mesmo paciente.

Fugindo do sistema público de saúde não é muito diferente. Infelizmente, mesmo pessoas com planos de saúde e condições de tratamentos particulares muitas vezes deixam de seguir um tratamento médico a longo prazo com mudança no estilo de vida. A grande maioria quer intervenções a curto prazo e sem muitas mudanças na sua “zona de conforto”.

“Tive um efeito rebote após meu tratamento ou com aquele medicamento!” – Essa frase representa exatamente isso. A verdade é que nenhum tratamento médico ou medicamento causa um rebote no reganho de peso se houver uma grande mudança no estilo de vida do paciente (além dos medicamentos/dieta). O reganho de peso normalmente acontece quando o individuo volta aos hábitos anteriores ou não modifica a sua composição corporal.

Falando em composição corporal, temos outro grande problema: o foco no peso. Peso na balança não ajuda no segmento de um paciente com sobrepeso, deve-se fazer sempre a avaliação física completa com métodos como a adipometria ou a bioimpedância. Posso citar um exemplo: se uma mulher de 90 kg inicia um programa de dieta e musculação ela pode, em 30 dias, perder 2 kg de massa de gordura corporal, mas ao mesmo tempo ganhar 2 kg de massa muscular mantendo assim os mesmo 90 kg; no entanto concordamos que essa paciente já terá uma composição corporal mais favorável (na minha visão, uma mudança de 4 kg).

O tratamento do sobrepeso deve ser encarado de forma ética e com acompanhamento do profissional. O número de pessoas que fazem dietas por conta própria é cada vez maior, somado ao aumento nas vendas de medicamentos sem receita médica. As pessoas colocam sua saúde em risco atrás de resultados que na maioria das vezes não têm sucesso. Buscar a ajuda de médicos e nutricionistas especializados no tratamento do sobrepeso é o primeiro e mais importante passo para mudar a sua vida. Um acompanhamento multidisciplinar deve ser adotado quando o paciente já realizou tratamentos ou tentativas prévias de mudar sua composição corporal e não teve resultados satisfatórios.

Por: Guilherme Renke – Rio de Janeiro

Fonte: Guilherme Renke, Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/post/2020/11/05/para-mudar-a-composicao-corporal-nao-foque-no-peso.ghtml

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