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Posso fazer exercícios após tomar vacina contra a Covid-19?

Dia Mundial da Imunização: médicos infectologistas respondem à pergunta sobre a existência ou não de restrições em relação à prática esportiva logo depois da vacinação

Posso fazer exercícios depois de tomar a vacina contra a Covid-19? Há alguma contraindicação? Os exercícios podem piorar ou melhorar seus efeitos colaterais? Pensando em responder a essas questões e abordar a importância de os atletas, amadores ou profissionais, se vacinarem, o Eu Atleta conversou com os médicos infectologistas Rodrigo Molina e Gabriela Margraf Gehring. Afinal, já se sabe que a atividade física regular fortalece o sistema imunológico humano, reduz em mais de um terço o risco de adoecer e morrer de doenças infecciosas e aumenta significativamente a eficácia das campanhas de vacinação e das vacinas em geral. Mas e quanto à prática de atividades físicas e esportes no mesmo dia ou nos primeiros dias após a imunização?

Pessoas fisicamente ativas tendem a ter uma resposta melhor às vacinas — Foto: Internet

De acordo com os profissionais, caso a pessoa esteja se sentindo 100% bem, não há nenhuma contraindicação para a prática de atividade física após a vacinação. O que pode acontecer, caso a vacina gere alguma reação ou efeito colateral, é a pessoa não ter disposição para fazer exercício; e, nesse caso, deve mesmo se poupar. Do contrário, caso a pessoa não sinta nada, ela pode fazer qualquer prática desportiva, realizando suas atividades de maneira usual, conforme sua rotina.

– Você realizar o exercício físico antes ou depois de tomar a vacina não interfere em nada. O grande problema é: caso você tenha algum efeito colateral da vacina, o que sabemos que é bem comum, a mesma pode afetar a qualidade do seu treino ou até mesmo pode fazer com que você não se sentir bem o suficiente para ir treinar. Então, caso a pessoa sinta algum efeito colateral advindo da vacina, o ideal é que ela mantenha-se hidratada, em repouso e tome remédio para dor ou para febre. Logo após a recuperação, ou seja, quando a pessoa estiver se sentindo bem novamente, ela pode retornar para sua rotina de treino habitual – aponta a infectologista Gabriela Gehring.

Prática esportiva e vacina

Um estudo publicado em abril na revista Sports Med, reunindo pesquisadores de universidades inglesas, escocesas, belgas e espanholas, analisando pesquisas publicadas até 2020, apontou que indivíduos com maiores níveis de atividade física (moderada ou intensa e regular) obtiveram um menor risco de infecção, uma melhor resposta de algumas células de defesa e uma melhor resposta vacinal quando comparados a indivíduos com menor nível de atividade física. Não é que o exercício físico modifique a eficácia das vacinas em si; o que ocorre é que, quando a prática esportiva é feita adequadamente, ou seja, sem excessos, ela aumenta a imunidade das pessoas, melhorando, consequentemente, a resposta à vacinação.

– Nos praticantes de atividade física regular, ocorre a liberação de citocinas e neurotransmissores que ajudam estimulando o sistema imunológico a ficar mais ativo. Então, seria basicamente essa a relação entre exercício físico e imunidade. Contudo, no caso da prática de atividade física extenuante, a relação é inversa, podendo diminuir esse efeito imunoprotetor e, consequentemente, afetar o sistema imunológico, fazendo com que as pessoas tenham algum sintoma de imunodeficiência, o que facilitaria a aquisição de infecções, por exemplo – explica Rodrigo Molina.

A prática esportiva pode piorar ou melhorar os efeitos colaterais advindos da vacina?

De acordo com Rodrigo Molina, não há relação entre atividade física e a melhora dos efeitos colaterais advindos da vacina. Por outro lado, Gabriela Margraf explica que os exercícios podem piorar alguns sintomas advindos da reação à vacina.

– Pensando na possibilidade de efeitos colaterais da vacina, como a presença de uma forte dor de cabeça, talvez treinar com esses sintomas possa piorar o quadro, assim como a pessoa pode piorar sua dor muscular, por exemplo, caso realize uma atividade física. Então, no caso da apresentação de sintomas/efeitos colaterais após tomar a vacina, o ideal é manter o repouso e retornar para a prática esportiva normalmente apenas quando estiver se sentindo 100% bem – indica a médica.

– É recomendado esperar um tempo antes de voltar às atividades físicas após tomar a vacina?

Como explicam os médicos infectologistas, não existe nenhuma recomendação oficial de tempo. Portanto, a pessoa pode tomar a vacina de manhã e ir fazer sua atividade no período da tarde ou até mesmo na sequência, por exemplo. O que guiará a pessoa neste sentido é o estado em que a mesma se encontra após a vacinação. Caso ela esteja se sentindo bem, o treino está liberado. Mas caso sinta algum efeito colateral, o ideal é aguardar ou fazer um exercício físico mais leve. No caso da presença de um efeito colateral mais intenso, a recomendação é para ficar em repouso e só retornar à prática esportiva quando estiver totalmente recuperado, sem sintomas.

A importância da vacinação para os atletas

Foto: Divulgação/CP

Independentemente de ser atleta, idoso ou um indivíduo com comorbidades, a vacinação é essencial para a população. Vale ressaltar que a vacina é um ato coletivo, e não um ato apenas individual. Então, quanto mais pessoas se vacinarem, melhor para todos, pois cria-se uma rede de proteção contra o vírus.

– A importância de um atleta, seja ele amador ou profissional, se vacinar é porque, dependendo da modalidade esportiva praticada, o mesmo vai ter contato com outras pessoas, o que facilita e aumenta a chance desse indivíduo adquirir a doença e também transmitir o vírus. Então, a vacina é a forma mais eficaz de proteger não somente ele, mas todos ao seu redor – explica Rodrigo Molina.

Além disso, ao se contaminar com Covid-19, o atleta pode ter desde um caso assintomático até muito grave, passando por leves e intermediários. Medalha de ouro no vôlei de praia nas Olimpíadas do Rio, em 2016, e já classificado para Tóquio, Bruno Schmidt, de 34 anos, ficou 13 dias internado com a doença em fevereiro deste ano, cinco deles na UTI. O ex-jogador de vôlei e atual técnico da seleção brasileira masculina da modalidade, Renan Dal Zotto, passou 36 dias internado entre abril e maio, com direito a duas intubações, uma cirurgia por causa de uma trombose e 26 quilos perdidos.

Como eles, atletas profissionais e amadores de todo o mundo sofreram com o coronavírus. Alguns mais, outros menos. E todos precisaram passar por um período parados, durante e após a doença; tiveram que fazer uma série de exames médicos; e, em muitos casos, enfrentaram um extenso período de recuperação das funções muscular, pulmonar e cardíaca, tendo que correr atrás do condicionamento perdido. A vacinação tem potencial para evitar a doença ou, ao menos, seu agravamento, prevenindo, por tabela, perdas na performance esportiva.

Por fim, o médico ressalta que, independente de onde a pessoa esteja fazendo sua atividade física, é essencial que ela siga todas as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ou seja: utilize máscara e respeite o distanciamento social. Em uma academia, por exemplo, evite fazer o revezamento de equipamentos; o ideal é fazer o exercício e, logo depois do uso, já limpá-lo para deixar disponível para outra pessoa. No caso de uma atividade de rua, o ideal é que a pessoa pratique a atividade sozinha, mas, caso a mesma esteja acompanhada, a recomendação é para que, além de fazer o uso da máscara, todos respeitem o distanciamento de pelo menos 1,5 metro.

Por: Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo

Fonte: Rodrigo Molina é médico infectologista com mestrado em Medicina Tropical e Infectologia na Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), onde também é professor assistente do Departamento de Clínica Médica e médico assistente do Hospital de Clínicas da UFTM, sendo o infectologista responsável da Comissão de Uso e Controle de Antimicrobianos. Médico infectologista no ambulatório de HIV multiexperimentados e ambulatório de hepatites virais e co-infecções. Responsável técnico da Unidade de Doenças Infecciosas e Parasitárias do HC/UFTM.

Gabriela Margraf Gehring é médica infectologista com pós-graduação em Controle de Infecção Hospitalar e em Serviços de Saúde pela Universidade Estadual de Londrina e mestrado em Ciências da Saúde pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Trabalha como médica no serviço de controle de infecção hospitalar da Santa Casa de Ponta Grossa, do Hospital Vicentino, do Hospital Universitário dos Campos Gerais e do Hospital Municipal de Ponta Grossa.

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/posso-fazer-exercicios-apos-tomar-vacina-contra-a-covid-19.ghtml

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