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A obesidade é uma doença complexa: precisamos acolher as pessoas e acertar as estratégias

Hoje 10 de setembro, celebra-se o Dia do Gordo, de conscientização sobre a importância do respeito por aqueles que estão acima do peso

Já ouviu falar em gordofobia? Parece absurdo, com tanta informação, que ainda exista grande preconceito com indivíduos obesas e com excesso de peso. São vistos como preguiçosos, desleixados, sem “força de vontade”, com pouco foco e não saudáveis.

Mesmo com mais da metade da população brasileira apresentando excesso de peso, não estamos adaptados a essa realidade. As pessoas com sobrepeso ainda encontram dificuldade para comprar roupa, andar em transporte público, comprar mobiliários, conseguir emprego.

Obesidade é uma doença complexa, multicausal, podendo estar ligada a alterações genéticas, desequilíbrio hormonal, comportamento alimentar, padrão sócio econômico e uso de medicamentos .

Não está, portanto, apenas relacionada ao desequilíbrio entre ingestão alimentar e gasto energético.

Possui correlação com doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e alguns tipos de câncer. Principalmente o acúmulo da gordura visceral, o biótipo maçã (corpo na forma de maçã), apresentando maiores alterações hormonais e metabólicas. Reduzir 10% do peso, mesmo ainda não estando dentro da classificação de “normalidade” pelo índice de massa corporal, o IMC (relação do peso para a altura), já traz inúmeros benefícios para a saúde.

E saúde e bem-estar não estão relacionados somente ao peso, e saúde não é somente ausência de doença.

O conceito de saúde e bem-estar é muito mais amplo, não está relacionado a padrões de beleza. A busca hoje é por um estilo de vida saudável e ativo. Manter bons exames laboratoriais; melhor relação com a comida, evitando a compulsão alimentar (não é a comida que nos engole); alimentação variada, colorida e prazerosa; importa onde/ com quem/ como você come; boa relação e aceitação do corpo (cada um tem um biótipo); manter-se ativo e fazer exercício físico regularmente (alguma atividade que dê prazer e seja mantida).

A grande pressão para redução de peso, a busca pela “magreza” e a realização de dietas restritivas e desequilibradas estão associadas a transtornos alimentares como bulimia e anorexia. Os extremos são perigosos. Quando se sobe em uma balança, o número que ela sinaliza é bem menor do que ele simboliza. Ainda brigamos com números, classificações, padrões e rótulos.

Não somos apenas o que comemos, o número que a balança mostra quando subimos, o resultado de exames e nem a letra na etiqueta da roupa que vestimos.

Somos um conjunto de complexidades, associação entre nossas emoções, memórias, preferências, aversões, capacidades, fragilidades, frustrações e desejos. Somos adaptáveis, para o bem e para o mal.

Estar acima do peso não é uma escolha.

Nunca houve tanta variedade de dietas, exercícios, medicamentos, procedimentos e cirurgias para reduzir o peso e ainda assim vivemos uma crise de obesidade mundial. Não estamos acertando nas estratégias e acolhendo as pessoas. Estamos aumentando o problema.

Por: Cris Perroni – Rio de Janeiro

 

Fonte: Nutricionista formada pela UFRJ, pós-graduada em obesidade e emagrecimento, com especialização em nutrição clínica e em nutrição esportiva

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/nutricao/post/2019/09/09/a-obesidade-e-uma-doenca-complexa-precisamos-acolher-as-pessoas-e-acertar-as-estrategias.ghtml

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