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O que acontece no seu corpo quando você come muito açúcar?

É difícil resistir a bolos, biscoitos, chocolates, doces e refrigerantes, que agradam o paladar de muita gente. O problema é que eles são cheios de açúcar. A OMS (Organização Mundial de Saúde) alerta que devemos consumir apenas 25 g por dia e não ultrapassar 50 g. Mas o brasileiro não segue essa recomendação e consome, em média, 80 g por dia, o que equivale a 18 colheres (de chá) de açúcar.

Para se ter ideia, um refrigerante com 350 ml possui cerca de 38 g e um bombom comum recheado, em média, 12 g. Logo, se você comer três bombons por dia, já ultrapassou o consumo saudável.

O excesso de açúcar no sangue faz mal, isso já é sabido. A longo prazo —e combinado com hábitos ruins, como sedentarismo e alimentação ruim — pode levar a aumentar o risco de obesidade e diabetes. Mas você sabia que até em curto prazo o excesso de açúcar também faz mal? Ele pode afetar diversos órgãos do corpo e de formas diferentes. Veja alguns efeitos a seguir:

Cérebro: o principal combustível do cérebro é a glicose, ou seja, açúcar. Logo após o consumo há um aumento do nível de alerta seguido por uma sensação de bem-estar, que passa rápido, pois é um dos mecanismos do comer por recompensa, como beliscar doces diversas vezes por dia e se sentir feliz nesses momentos.

Porém, o excesso leva a alterações no sistema de recompensa e nos circuitos cerebrais que regulam a fome e a saciedade. Isso faz com que a pessoa queira comer doce, independentemente de estar com fome ou não. O cérebro entende como uma espécie de recompensa prazerosa e isso gera uma sensação momentânea gostosa e agradável.

Mas em longo prazo, pequenas alterações na quantidade de açúcar podem resultar em perda da função cognitiva, redução da memória e atenção. Além disso, o excesso pode desencadear o aparecimento de placas de gordura nas artérias do cérebro (aterosclerose) e aumentar risco de AVC.

Coração: o excesso de açúcar faz com que as reservas de gorduras presentes no organismo sejam mobilizadas. Isso pode, eventualmente, provocar a formação de placas nas artérias coronárias.

Além disso, o consumo exagerado também forma os chamados radicais livres, provocando uma lesão na camada que protege a parede das artérias. “Chamada de endotélio, essa camada protege a parede de substâncias tóxicas, mas o açúcar em excesso provoca uma lesão nela”, explica o cardiologista Marcelo Sampaio.

Tanto a lesão quanto a formação de placas podem provocar coágulos (trombos) e levar a uma redução do calibre das artérias, afetando a pressão arterial —as artérias constantemente aumentam e reduzem o calibre, e ele aumentado é uma forma de proteção, o problema é que o açúcar pode provocar a perda desse mecanismo e levar à vasoconstrição (contração dos vasos sanguíneos)

“Ninguém vai ter uma doença aguda pelo excesso de açúcar, vão ter doenças crônicas, mas, agudamente, você vai ter reações e desequilíbrios de mecanismos compensatórios que são fundamentais para manter o equilíbrio geral do organismo”, diz Sampaio.

Pâncreas: o pâncreas é um órgão muito importante, pois é o responsável pela captação de glicose pelas células. Quanto mais açúcar no sangue, mais ele libera insulina. Porém, há um limite de quantidade de insulina que o órgão consegue liberar. “Quando passa desse limite, a glicose não irá ser utilizada pelas células e será armazenada nos músculos e no fígado, como um depósito energético, e nas células de gordura”, explica Simone Reges Perales, cirurgiã do aparelho digestivo.

Quando há ingestão de açúcar em excesso, a insulina produzida deixa de ser suficiente, o que faz o pâncreas trabalhar mais e mais, até que atinja sua capacidade máxima, entrando em falência e produzindo pouca insulina. “Isso pode resultar em diabetes”, alerta Perales.

Rins: em um período imediato, pode haver uma leve sobrecarga na tentativa de eliminar o excesso de açúcar. A longo prazo, os rins continuam tentando filtrar e eliminar o excesso de glicose na corrente sanguínea, e acabam sofrendo de sobrecarga e aumento de pressão dentro das unidades de filtração (os glomérulos). O resultado é a perda de proteína na urina (proteinúria) desde pequenas até altas quantidades, podendo então evoluir para a perda renal, isto é, a perda do rim. Nesse caso, há necessidade de usar terapias para substituir a função do órgão.

Fígado: quando a gente exagera no açúcar, o pâncreas libera muita insulina, e esse excesso faz com que o açúcar, que acaba virando gordura, seja estocado na gordura visceral e dentro do fígado, causando esteatose, que é o acúmulo de gordura no fígado. Em longo prazo, a esteatose hepática pode evoluir para esteato-hepatite (inflamação do fígado por causa da presença de gordura) e depois para fibrose do fígado, desencadeando a cirrose.

Intestino: o excesso gera o desequilíbrio da flora intestinal, podendo causar diarreia, dor abdominal, excesso de gases, mau hálito e até falta de vitaminas, já que a flora inflamatória faz com que a pessoa tenha dificuldades em absorver as vitaminas dos alimentos.

Pele: o consumo excessivo aumenta a oleosidade da pele, causando acne. “A acne pode vir em vários graus, pode ser só aquela pápulo-pustulosa, mas também a gente pode ter um quadro descontrolado de nódulo cística”, diz a dermatologista Fernanda Seabra. Essa oleosidade também contribui para o aumento da dermatite seborreica e da descamação facial. Muito açúcar também pode aumentar a sudorese.

Por: Bruna Alves Do VivaBem, em São Paulo

Fonte: Simone Reges Perales, cirurgiã do aparelho digestivo da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas); Andressa Heimbecher Soares, médica endocrinologista, membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia); Fernanda Seabra, dermatologista do Aliança Instituto de Oncologia, em Brasília; Marcelo Ferraz Sampaio, cardiologista da BP (A Beneficência Portuguesa de São Paulo); Eduardo Melani Rocha, professor do Departamento de Oftalmologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da FMRP-USP (Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo); Vivian Marques Miguel Suen, médica nutróloga e professora do Departamento de Clínica Médica da FMRP-USP

Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/03/03/a-curto-prazo-o-acucar-em-excesso-tambem-e-prejudicial-entenda-porque.htm

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