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Covid-19: hospitalização é 34% menor entre pessoas fisicamente ativas

Novo estudo brasileiro com pacientes curados do coronavírus aponta para a importância de abandonar o sedentarismo. Idealizador da pesquisa e médico do esporte explicam e dão dicas

Estudo conduzido por pesquisadores brasileiros aponta que a prática de atividades físicas pode reduzir em 34,3% a prevalência de hospitalizações por Covid-19, desde que essas atividades sejam feitas em intensidade suficiente. No estudo, pacientes curados responderam a um questionário on-line que incluía perguntas sobre cofatores, como idade, sexo, presença de comorbidades e peso e altura, para cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Além disso, reunia questões sobre o quadro da doença, como sintomas, se houve internação e por quanto tempo; e a prática de atividades físicas antes da infecção pelo SARS-CoV-2. Foram consideradas as informações de 938 participantes de ambos os sexos e diferentes idades e estados do país, dos quais 91 (9,7%) foram internados. O artigo do estudo ainda não foi revisto por pares. Ainda assim, é mais um reforço para a recomendação de que manter-se fisicamente ativo pode melhorar a resposta do organismo em casos de doenças, incluindo as infecciosas, como a Covid-19.

Para quem é adepto de atividades mais intensas, como corridas, é preciso adotar medidas como uso de máscara e distanciamento social ao praticá-las — Foto: Internet

Idealizador da pesquisa, o profissional de Educação Física Marcelo Rodrigues dos Santos comenta que o objetivo principal do estudo era entender se há uma menor prevalência de hospitalizações por Covid-19 entre indivíduos fisicamente ativos. Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), ele ressalta que foram consideradas suficientemente ativas aquelas pessoas que fazem 150 minutos semanais de atividades moderadas, acumulando ao longo do dia o tempo de caminhadas e práticas como subir escadas e pedalar até o trabalho, por exemplo, e/ou praticam exercícios mais intensos, como futebol, crossfit, natação entre outras modalidades, por 75 minutos semanais. Santos pondera que trata-se de um estudo observacional e, portanto, não foram identificados os mecanismos que influenciam a relação entre atividades físicas e hospitalizações por Covid-19. Contudo, argumenta que os dados do trabalho indicam que essa prática regular e prévia à infecção pelo novo coronavírus pode proteger os pacientes.

– Sabe-se que pessoas que praticam exercício regulamente melhoram o sistema imunológico e as defesas do organismo. Essas pessoas têm mais linfócitos e leucócitos, que são células de defesa do organismo. O risco de infecções entre pessoas ativas é menor do que entre sedentárias. Partimos desse princípio para realizar o estudo: já que esse coronavírus é novo, e não se tem anticorpos contra ele, quem faz exercício tem certa proteção? – argumenta o profissional de Educação Física, emendando que manter-se ativo também é uma forma de controlar cofatores envolvidos na piora dos casos de Covid-19 e melhorar a saúde de forma geral: – O exercício físico consegue prevenir mais de 30 doenças crônicas, incluindo câncer, síndromes metabólicas e problemas cardiovasculares.

Ou seja, ao reduzir a incidência de comorbidades, a atividade física ajuda a prevenir o agravamento do quadro da Covid-19. Mas Santos evidencia que é preciso cuidado ao observar os resultados apresentados pelo estudo. A influência das atividades físicas para a redução de internações por Covid-19, assim como seus benefícios para a melhora da imunidade e da saúde geral, não sugerem que quem é suficientemente ativo estará protegido caso tenha contato com o SARS-CoV-2. Assim como quem é sedentário, essas pessoas também estão sujeitas a serem infectadas quando expostas ao novo coronavírus e precisam adotar todas as precauções no dia a dia. Além disso, Santos acrescenta que a pesquisa não demonstra uma eventual proteção das atividades físicas quando os pacientes com Covid-19 são hospitalizados. Segundo o profissional de Educação Física, a pesquisa aponta que, nesses casos, a doença não foi menos grave ou o tempo de internação reduzido quando os indivíduos eram suficientemente ativos.

– Achar que só por ser fisicamente ativo não terá problemas caso tenha a Covid-19 não é verdade. Tínhamos a preocupação de que as pessoas interpretassem dessa forma. Nossa pesquisa indica uma menor prevalência de hospitalizações. Pessoas ativas ou não têm o risco de infecção e ponto final. Por isso, precisam utilizar máscara, manter o distanciamento social e higienizar as mãos continuamente, independente de serem atletas ou não – completa Santos.

Para o médico do esporte, ortopedista e traumatologista Ricardo Munir Nahas, apesar de o artigo ainda não ter sido revisto, o estudo vai de encontro ao que outras pesquisas demonstram sobre os benefícios de um estilo de vida ativo e dos exercícios e esporte para a melhora da saúde. Vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed), Nahas destaca que essas medidas são essenciais para combate a doenças crônicas, como diabetes, hipertensão e obesidade, que, ademais, já são conhecidos fatores de risco para agravos da Covid-19. Por isso, alerta sobre a importância de manter-se fisicamente ativo e praticar exercícios durante a pandemia para melhorar as chances de enfrentamento da Covid-19. Porém, o médico lembra ainda que, como recomendado em qualquer doença, é preciso dar uma pausa nas atividades físicas em caso de infecção pelo novo coronavírus para evitar complicações.

– Todas as pessoas têm o risco (de contrair a Covid-19). Há quem tenha fatores agravantes e precise ficar em casa. Mas todas as pessoas têm boa chance fazendo atividades físicas. Você não ficará livre se tiver contato com o vírus, mas seu corpo poderá se defender melhor contra essa e outras doenças quando as atividades físicas são regulares. Torne a sua vida mais ativa. Dentro do seu prédio ou condomínio, suba escadas, mas desça de elevador. Alongue-se também. Dentro de casa, use equipamentos, como bicicleta. Use não como cabide, mas para fazer atividade. Quem antes da pandemia corria provas longas, procure espaços abertos para fazer a sua atividade, mas de forma solitária, e não coletiva, porque quando se aproxima das outras pessoas o risco de contágio aumenta – orienta o médico do esporte, lembrando ainda que, ao sair, é preciso usar máscara e álcool gel 70%.

Alertas para idosos e obesos

Mais sujeitos a internações por agravos da Covid-19, idosos precisam ficar mais reclusos, mas isso não significa que devam ficar parados — Foto: Internet

A pesquisa corrobora resultados de outros trabalhos ao apontar que pacientes com mais de 65 anos ou doenças preexistentes, incluindo obesidade, têm maior prevalência de hospitalizações relacionadas à Covid-19. Homens também foram mais internados, segundo o estudo. Entre eles, esse percentual foi de 66%. No caso dos idosos, Santos comenta que esses indivíduos acabavam internados até sete vezes mais. Embora não seja possível mudar o fator idade, o profissional de Educação Física afirma que, com as atividades físicas, dá para melhorar muito a saúde de quem está nessa fase da vida.

– Pessoas fisicamente ativas desde jovens envelhecem melhor. Mas estudos indicam que, mesmo quando os exercícios começam a ser mais regulares depois dos 50 anos, os benefícios são parecidos com aqueles das pessoas que iniciaram jovens. Ou seja: nunca é tarde para começar. Uma vez que os exercícios são iniciados, começam também os benefícios – constata Santos.

O profissional de Educação Física reconhece que muitos idosos estão mais restritos em casa para se protegerem durante a pandemia. Contudo, isso não exclui a necessidade de manterem-se ativos. Segundo Santos, é essencial que façam algum tipo de atividade física em casa e evitem permanecer muito tempo sentados. Para tanto, a depender das capacidades de cada idoso, vale limpar a casa, subir uma escada ou até fazer jardinagem, para dar alguns exemplos. O importante, conforme frisa o profissional de Educação Física, é acumular ao menos 30 minutos de atividades por dia.

– Com o avançar da idade, o idoso vai perdendo massa muscular e força, aumentando o risco de quedas. Por isso, é importante que façam também um trabalho de fortalecimento muscular. Em casa dá para utilizar materiais que substituam os pesos ou usar o próprio corpo. Sente-se e levante-se da cadeira algumas vezes ao longo do dia, pois ajuda a fortalecer as pernas e o quadril e a manter a funcionalidade muscular. Para quem tem mais limitação, é possível usar uma cadeira com braços ou mais alta – exemplifica Santos.

Em relação a indivíduos com sobrepeso ou obesidade, o estudo aponta que a prevalência de hospitalizações variou entre 83%, quando o IMC era superior a 30 kg/m², e 166%, quando esse índice superava 35 kg/m². Santos pondera que o tratamento da obesidade pode envolver não apenas exercício físico e controle da ingestão calórica. Todavia, considerando que muitos conselhos liberaram o atendimento on-line durante a pandemia, incluindo de diversas especialidades médicas, nutricionistas e profissionais de Educação Física, é possível aproveitar esse momento para perder peso.

– Mudar comportamentos alimentares associando os exercícios físicos é importante primeiramente para ter perda de peso. Há muitos estudos sobre vacina saindo agora que animam, e é para estar animado mesmo. Mas esses estudos não estão incluindo obesidade severa. Será que as vacinas funcionarão tão bem como entre as pessoas com peso normal? É importante mudar agora os cofatores possíveis, como a obesidade, inclusive para quando houver vacina – analisa Santos.

Nahas concorda que a pandemia também pode ser uma oportunidade para enfrentamento de doenças como a obesidade. De acordo com ele, o momento oferece uma chance para dar uma virada em termos de qualidade e quantidade de vida. Por isso, caso a pessoa apresente alguma doença crônica, Nahas recomenda consultar um médico, de preferência do esporte, para orientações individualizadas.

– Há estudos que comparam obesos com exercício e sem exercício e fumantes com exercício e sem exercício, por exemplo. Quem faz atividade física ganha em termos de redução de risco. O obeso ativo tem menos riscos do que o obeso inativo. A obesidade é um complicador? É, mas a falta de atividade física é um complicador maior. Caminhe. Mas se não consegue caminhar porque sente dor por causa do sobrepeso, pedale em uma bicicleta, como os modelos usados para reabilitação. Converse com um médico para ser aconselhado sobre a dose certa desse remédio para não só ter os benefícios do exercício, mas também para prevenir os malefícios, que são as dores que levam a pessoa obesa a parar de se exercitar. Com o exercício até o seu sono será melhor, mais reparador e o deixará mais disposto para enfrentar essa rotina novamente. Mudar isso pode parecer impossível mas não é – assegura o médico do esporte.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Aberystwyth, País de Gales

Fonte: Marcelo Rodrigues dos Santos, profissional de Educação Física e Doutor pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP)

Ricardo Munir Nahas, médico do esporte, ortopedista e traumatologista Vice-presidente da Confederação Sul-Americana de Medicina do Esporte (Cosumed),

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/covid-19-hospitalizacao-e-34percent-menor-entre-pessoas-fisicamente-ativas.ghtml

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