Benefícios dos exercícios no tratamento de doenças da tireoide
Prática esportiva ajuda a regular o metabolismo em quem possui alterações hormonais causadas pelo hipotireoidismo ou pelo hipertireoidismo
A tireoide é uma glândula endócrina localizada na parte da frente do pescoço, logo abaixo do pomo-de-adão, e que desempenha um papel muito importante na regulação do metabolismo e no funcionamento adequado de diversos órgãos e sistemas do corpo. Ela produz hormônios tireoidianos, principalmente a tiroxina (T4) e a triiodotironina (T3), que são liberados na corrente sanguínea e afetam praticamente todas as células do organismo. Mas o exercício físico afeta essa glândula? Mas será que as pessoas que sofrem de hipo ou hipertireoidismo podem praticar qualquer exercício físico? Quais seriam os mais indicados para cada caso?
Metabolismo
Tireoide: no hipotireoidismo, hpa produção insuficiente dos hormônios T3 e T4; no hipertireoidismo, há excesso na produção — Foto: Istock Getty Images
A principal função dos hormônios tireoidianos é controlar o metabolismo basal, que é a velocidade na qual as células do corpo convertem nutrientes em energia. Eles desempenham um papel importante na regulação da temperatura corporal, no crescimento e desenvolvimento normal, nas funções cardiovascular e cerebral, na fertilidade e na função muscular, entre outros.
– Quando a glândula está desregulada, os níveis de hormônios produzidos podem se alterar: quando há produção excessiva de hormônios, existe o quadro de hipertireoidismo (ou tireotoxicose); quando a produção está deficiente ou prejudicada, temos o hipotiroidismo – explica o médico endocrinologista Rogério Friedman, chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.
– No hipertireoidismo podem ocorrer múltiplos sintomas e alterações: a frequência cardíaca aumenta (produzindo palpitações), ocorrem tremores delicados nas mãos, a pessoa perde peso (mas mantém o apetite e, às vezes, até come mais do que o habitual), o ritmo dos intestinos se acelera (e podem ocorrem múltiplas evacuações diárias), o pensamento e a fala se aceleram, a menstruação fica irregular etc. A causa mais comum do hipertireoidismo é a chamada Doença de Graves, que é autoimune;
– No hipotireoidismo, a pessoa tem dificuldade de emagrecer e pode ganhar um pouquinho de peso, sem aumentar a ingestão de alimentos; a frequência cardíaca fica mais lenta, assim como o pensamento e a fala; ocorrem sonolência e sensação de cansaço; casos de constipação intestinal; a menstruação se atrasa ou deixa de ocorrer; cabelos e pele ficam mais secos e ainda há queda de cabelos. A maioria dos casos de hipotiroidismo se deve a uma doença autoimune chamada tireoidite linfocítica crônica ou tireoidite de Hashimoto.
– Na maioria das vezes, os sintomas irão chamar a atenção do médico, mas em algumas situações especiais, as enfermidades são assintomáticas.
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Exercícios
Roberto Ranzini esclarece que os exercícios físicos podem e devem ser realizados, mas apenas quando os sintomas estiverem controlados e os exames normais. E ressalta que o exercício não contribui para o tratamento, mas deve ser estimulado nos pacientes tratados como estratégia de preservação da saúde individual, assim como para qualquer pessoa.
– Se estiver bem tratado, com sintomas controlados e exames normais, pessoas com hiper ou do hipotireoidismo podem fazer exercícios como qualquer pessoa saudável, desde que sejam antes avaliadas por médico e sigam as orientações personalizadas. Até porque em um caso de tireóide hiperativa (hipertireoidismo), são produzidos hormônios tireoidianos em excesso, o que aumenta significativamente o metabolismo e a frequência cardíaca. Se os hormônios tireoidianos não estão controlados, muitos exercícios, especialmente em alta intensidade, podem fazer com que a pessoa entre em insuficiência cardíaca. Por outro lado, uma tireoide hipoativa (hipotireoidismo) não produz hormônios suficientes, desacelerando o metabolismo e a frequência cardíaca. Neste caso, o exercício pode ser difícil para o coração, causando muito cansaço – diz.
Seguindo as orientações médicas, com os sintomas controlados e exames normais, o próximo passo é começar a praticar uma atividade física regular, como orienta a médica endocrinologista Maria Cecília Fittipaldi, especialista da Clínica First, em São Paulo.
– Exercícios aeróbicos, como caminhada, natação ou ciclismo, assim como exercícios de força (musculação) podem ajudar a melhorar o metabolismo, a energia e o bem-estar geral. No entanto, é importante que o hipotireoidismo esteja controlado para que a pessoa consiga realizar os exercícios adequadamente. Já nos casos de hipertireoidismo é importante considerar algumas precauções. Como a doença é caracterizada por uma produção excessiva de hormônios tireoidianos, há uma aceleração do metabolismo e aumento da atividade cardiovascular. Portanto, o objetivo da atividade física nesse caso deve ser promover o equilíbrio e evitar o estresse adicional ao organismo – , sinaliza Maria Cecília Fittipaldi.
Benefícios dos exercícios – Hipotireoidismo
Natação – (Foto:Reprodução/Internet)
– Aumento da energia: o exercício físico regular ajuda a combater a fadiga e a aumentar os níveis de energia. Ele estimula a liberação de endorfinas, substâncias químicas responsáveis pela sensação de bem-estar, o que pode ajudar a melhorar o ânimo e a disposição;
– Estímulo do metabolismo: o hipotireoidismo pode levar a um metabolismo mais lento, o que pode resultar em ganho de peso ou dificuldade em perdê-lo. O exercício físico pode ajudar a aumentar a taxa metabólica e auxiliar na manutenção do peso saudável, acelerando o metabolismo;
– Melhora do humor e redução do estresse: o exercício físico é conhecido por ter efeitos positivos no humor, reduzindo os sintomas de ansiedade e depressão (que podem estar presentes no hipotireoidismo);
– Melhora da saúde cardiovascular: o hipotireoidismo pode afetar o sistema cardiovascular, resultando em batimentos cardíacos mais lentos. O exercício físico fortalece o coração, melhora a circulação sanguínea e reduz o risco de doenças cardiovasculares.
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Sugestões de exercícios:
1. Exercícios aeróbicos de intensidade moderada: atividades aeróbicas como caminhada, ciclismo, natação, dança ou aeróbica de baixo impacto podem ser benéficas para pessoas com hipotireoidismo. Eles ajudam a melhorar a circulação e a aumentar a resistência cardiovascular;
2. Treinamento de força: a incorporação de exercícios de força, como levantamento de pesos ou uso de máquinas de resistência, pode ajudar a fortalecer os músculos e melhorar a composição corporal. Isso é importante para compensar a diminuição do metabolismo associada ao hipotireoidismo;
3. Alongamento e exercícios de flexibilidade: o hipotireoidismo pode causar rigidez muscular e nas articulações. Incluir atividades de alongamento e exercícios de flexibilidade, como yoga ou pilates, ajuda a melhorar a amplitude de movimento e reduzir a rigidez.
Benefícios dos exercícios – Hipertireoidismo
Bikram Hot Yoga – (Foto:Reprodução/Internet)
– Redução do estresse e ansiedade: o exercício físico é conhecido por ajudar a reduzir os níveis de estresse e ansiedade, que podem ser exacerbados no hipertireoidismo;
– Melhora da qualidade do sono: a doença pode favorecer a insônia. A prática regular de exercícios ajuda a melhorar a qualidade do sono, promovendo um sono mais adequado e reparador;
– Manutenção do peso saudável: o hipertireoidismo pode levar à perda de peso não intencional devido ao aumento do metabolismo e perda de massa muscular. O exercício físico auxilia no controle do peso corporal, ajudando a manter um equilíbrio entre a ingestão calórica e o gasto energético;
– Melhora da saúde cardiovascular: o exercício físico fortalece o sistema cardiovascular, melhorando a resistência aeróbica, a circulação sanguínea e a saúde do coração. No entanto, é importante que a intensidade e a duração do exercício sejam adequadas e supervisionadas, evitando sobrecargas excessivas no sistema cardiovascular;
– Aumento da densidade óssea: a perda óssea pode ocorrer com o hipertireoidismo, mas estudos mostram que o treinamento de força pode ajudar a recuperar parte dessa perda;
– Ajuda na regulação das emoções e do humor: os exercícios físicos proporcionam uma sensação de bem-estar e reduzem os sintomas emocionais associados ao hipertireoidismo, como irritabilidade e nervosismo.
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Sugestões de exercícios:
1. Exercícios de baixo impacto: caminhada, natação, yoga, pilates ou ciclismo em terreno plano. Essas atividades podem ajudar a manter o condicionamento físico e melhorar a saúde cardiovascular sem colocar uma carga excessiva nas articulações;
2. Treinamento de força com moderação: exercícios de fortalecimento muscular, como levantamento de pesos ou uso de máquinas de resistência, podem ser benéficos, mas é importante realizá-los com moderação. Evite levantar pesos excessivamente pesados ou realizar séries prolongadas que possam aumentar a pressão arterial e a frequência cardíaca de forma exagerada.
– É essencial introduzir intervalos regulares de descanso durante os exercícios, especialmente se estiver realizando atividades mais intensas. É importante ainda monitorar a frequência cardíaca e a pressão arterial durante os exercícios Se notar uma aceleração excessiva do coração ou desconforto significativo, pare a atividade e descanse – orienta a endocrinologista Maria Cecília Fittipaldi.
Por: Úrsula Neves, para o EU Atleta — Rio de Janeiro
Fonte: Maria Cecília Fittipaldi é médica especialista em endocrinologia e metabologia da Clínica First (@clinicafirst), em São Paulo.
Roberto Ranzini é médico ortopedista e médico do esporte, integrante do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein e do Hospital Alemão Oswaldo Cruz.
Rogério Friedman é médico endocrinologista, chefe do Serviço de Endocrinologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, supervisor do Programa de Residência Médica em Endocrinologia do Hospital Moinhos de Vento, além de professor titular do Departamento de Medicina Interna da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/reportagem/2023/05/25/c-beneficios-dos-exercicios-no-tratamento-de-doencas-da-tireoide.ghtml
