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Consumo de bebidas alcoólicas causa diversos tipos de câncer

Médica oncologista explica novo estudo da Universidade de Oxford e enumera sete fatores de risco modificáveis para a doença, como tabagismo, sedentarismo e exposição ao sol sem proteção

Um novo estudo genético conduzido por pesquisadores das universidades de Oxford e de Pequim e da Academia Chinesa de Ciência Médicas confirmou que o consumo de bebidas alcoólicas tem relação direta com a incidência de alguns tipos de câncer, especialmente os de cabeça e pescoço (boca, língua, tireoide e outros), esôfago, mama, fígado e cólon (parte do intestino grosso). O resultado corrobora as conclusões de outros estudos. Como um de 2020 segundo o qual o álcool causa 3 milhões de mortes por ano em todo o mundo, sendo cerca de 400 mil delas por câncer. As bebidas alcóolicas são, nesse sentido, um dos principais fatores de risco modificáveis para câncer, ao lado do tabagismo, da exposição ao sol sem uso de proteção contra raios ultravioletas, do sedentarismo e da não adesão à vacinação contra o HPV.

O estudo

Álcool em medidas extremas pode afetar saúde física e mental e causar câncer — Foto:Reprodução/Internet

Durante 11 anos, os pesquisadores reuniram dados de 150 mil chineses. Parte deles possui dois genes que causam uma menor tolerância ao álcool, sendo um grupo que bebe em menor quantidade; o outro grupo, por ter maior tolerância, bebe uma maior quantidade. Os que possuíam os genes de baixa tolerância ao álcool e tinham menos hábito de beber apresentaram entre 13 e 25% menos risco de câncer do que os com maior tolerância ao álcool.

– É um estudo robusto, pelo volume de pacientes e pelo tempo de análise (11 anos). A conclusão foi a de que existe uma relação direta entre o consumo de bebidas alcoólicas e alguns tipos de câncer, uma relação que já é estudada há muito tempo, mas que esse estudo confirma e consolida. E é algo que precisa ser olhado com atenção, porque já há pesquisas que relatam um grande aumento de consumo de álcool durante a pandemia de Covid-19 – alerta a médica oncologista Tatiane Montella, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), da Casa de Saúde São José e do grupo Oncoclínicas.

Um levantamento realizado pelo Datafolha por encomenda do Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) mostra que 55% da população brasileira acima de 18 anos tem o hábito de consumir bebidas alcoólicas, e 17,2% dessas pessoas afirmaram ter passado a beber mais durante a pandemia de Covid-19. No resto do mundo, aumentos semelhantes foram observados. Nos Estados Unidos, por exemplo, uma pesquisa nacional sobre hábitos de consumo revelou um crescimento de 21% da ingestão de álcool durante a pandemia.

Com isso, numa nova pesquisa publicada na revista científica Hepatology, pesquisadores do Massachusetts General Hospital (MGH) projetaram taxas de doença hepática e mortes associadas devido ao aumento do consumo de álcool nesse período. Segundo os pesquisadores, um ano de aumento de consumo de álcool na pandemia resultará em 8.000 mortes adicionais por doenças hepáticas, 18.700 casos de insuficiência hepática e mais 1.000 casos de câncer de fígado até 2040, fora outros tipos de neoplasias, em outros órgãos. Ou seja, os resultados vão aparecer no longo prazo, pelos próximos 20 anos.

Mudanças de hábitos para combater o câncer

A nicotina do cigarro e o acetaldeído do álcool interferem na estrutura da célula — Foto:Reprodução/Internet

1. Álcool

– O álcool tem uma substância, o acetaldeído, que é carcinogênica. Ou seja, interfere diretamente no ciclo da célula – explica Tatiane, comentando que quanto maiores a quantidade e a frequência, maior o risco. – Quantidades moderadas de álcool já podem aumentar o risco. Frequência é sempre relevante. A gente vai ver repercussões do que está acontecendo na pandemia nos próximos dez anos ou mais.

Reduzir o consumo de bebidas alcoólicas pode, portanto, ajudar a diminuir a incidência e a mortalidade por câncer.

2. Tabagismo

Assim como o acetaldeído, a nicotina presente nos cigarros interfere diretamente na estrutura do DNA e na replicação das células. Por isso, fumar é um importante fator de risco para câncer de pulmão, cabeça e pescoço, boca, língua, esôfago, rins e pâncreas, entre outros.

3. Exposição ao sol sem proteção

Usar cremes e roupas com proteção solar, que ofereçam uma barreira contra os raios ultravioletas, é fundamental para evitar os vários tipos de câncer de pele, especialmente o melanoma, o mais grave. Os raios UVA e UVB mexem com a estrutura celular da pele, causando uma replicação celular anormal.

4. Vacina para o HPV

Existe uma vacina para câncer: é a vacina contra o HPV, que combate alguns tipos do Papilomavírus Humano, principalmente os que causam câncer de colo de útero, pênis, reto, ânus, cabeça e pescoço. Transmitidas sexualmente, essas cepas do HPV também interferem nas células das áreas contaminadas. O HPV, portanto, é um fator de risco, e a adesão à vacinação contra esse vírus diminui enormemente a incidência de alguns tipos de neoplasias.

5. Sedentarismo

Sedentarismo e obesidade são fatores de risco para câncer — Foto:Reprodução/Internet

De acordo com um estudo publicado em 2020 no JAMA Oncology por pesquisadores da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, pessoas que ficam horas sentadas podem ter até 80% mais chances de morrer de câncer quando comparadas àquelas que estão em movimento. A atividade física reduz o risco de contrair e morrer de câncer colorretal, de intestino, de próstata e de mama.

– Aqui, o pensamento é diferente: não é o sedentarismo que agride as células, é o exercício físico regular que as protege – explica Tatiane.

6. Obesidade

A obesidade causa uma série de inflamações no organismo, e essas inflamações são fatores de risco para o desenvolvimento de cânceres, já que o mecanismo inflamatório pode contribuir para alterações celulares.

7. Rastreio

Manter um acompanhamento médico anual e a realização de exames de rotina ajuda não a evitar o câncer, mas a descobri-lo numa fase inicial, precocemente, o que reduz a mortalidade e aumenta a sobrevida dos pacientes.

E a dieta?

Há estudos sendo feitos para avaliar se a ingestão excessiva de gorduras, carne vermelha e alimentos ultraprocessados por longos anos facilita o surgimento de câncer do aparelho digestivo e em outras áreas do corpo. Segundo Tatiane, ainda não há dados robustos que confirmem ou neguem a relação entre alimentação e neoplasias.

– É uma questão polêmica. Mas comer bem sempre ajuda a saúde e auxilia na manutenção de um peso ideal – comenta a médica.

Ao ajudar a evitar a obesidade, a alimentação saudável pode no mínimo reduzir, mesmo que indiretamente, o risco de cânceres.

Por: Flávia Ribeiro — Rio de Janeiro

Fonte: A médica oncologista Tatiane Montella é coordenadora de oncologia clínica na Casa de Saúde São José e no grupo Oncoclinicas e trabalha como oncologista clínica na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/consumo-de-bebidas-alcoolicas-causa-diversos-tipos-de-cancer.ghtml

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