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Ultraprocessados aumentam risco de obesidade em adolescentes em 45%

Estudo avaliou a dieta de jovens dos Estados Unidos, mas serve de alerta para o consumo desses produtos pelos brasileiros. Nutricionista responsável pela pesquisa explica

Novo estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), observou a relação entre o consumo de alimentos e bebidas ultraprocessados, em geral ricos em açúcar, sódio, gordura e aditivos químicos, como corantes, aromatizantes, emulsificantes e espessantes, e o excesso de peso entre adolescentes dos Estados Unidos. Os resultados mostraram que aqueles que mais comiam ultraprocessados, com esses itens respondendo por cerca de 64% do total de gramas da dieta, apresentaram 45% mais chance de obesidade quando comparados aos que consumiam menos (18,5% em média).

Os pesquisadores consideraram os dados de 3.587 pessoas entre 12 e 19 anos que participaram do inquérito nacional de saúde e nutrição dos Estados Unidos, o National Health and Nutrition Examination Survey (Nhanes). Esses adolescentes foram divididos em três grupos conforme a quantidade ingerida desses produtos. O grupo que mais ingeria produtos ultraprocessados estava ainda 52% mais sujeito a obesidade abdominal e tinha 63% mais chance de obesidade visceral, quadro que está associado ao desenvolvimento de doenças crônicas, como hipertensão, diabetes tipo 2 e dislipidemia, além do aumento do risco de mortalidade.

Ultraprocessados estão associados ao aumento do risco de obesidade visceral entre adolescentes, que também pode afetar aqueles considerados magros — Foto:Reprodução/Internet

Esse estudo, cujos resultados foram publicados no Journal of the Academy of Nutrition and Dietetics, traz um recorte sobre a relação entre ultraprocessados e obesidade na adolescência presente no trabalho de pós-doutorado da nutricionista Daniela Neri, que investigou o efeito desses produtos alimentícios na saúde de crianças e adolescentes. Nesse recorte, foi verificado o padrão da dieta desses jovens entre 12 e 19 anos por meio de metodologia que obtém informações sobre alimentos e bebidas consumidos no dia anterior às entrevistas do inquérito nacional de saúde e nutrição.

– Com esse estudo, temos dados muito representativos da população nessa faixa etária. Podemos afirmar que dois terços das calorias totais da dieta [dos adolescentes dos Estados Unidos entre 12 e 19 anos] vêm dos ultraprocessados. Verificamos ainda o peso relativo desses produtos em relação a tudo o que eles comiam. Em termos de gramas, os ultraprocessados representaram 40% de tudo o que comeram – aponta a Daniela Neri.

A nutricionista reforça que quanto maior a presença dos ultraprocessados na dieta dos adolescentes, maiores as chances de eles terem sobrepeso e obesidade, conforme demonstram os resultados. No entanto, os pesquisadores também verificaram dados antropométricos dos participantes, tendo como referência a curva de crescimento nos Estados Unidos. Eles calcularam o Índice de Massa Corporal (IMC), que considera o peso e a altura ao quadrado para identificar os parâmetros de sobrepeso e obesidade, mediram circunferência abdominal e verificaram o diâmetro abdominal sagital, forma não invasiva para mensuração da gordura entre os órgãos, dos adolescentes.

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– O acúmulo de gordura na região abdominal tem uma forte relação com o aumento do risco de desenvolvimento de doenças. A obesidade visceral, especialmente, quando há um acúmulo de gordura entre os órgãos, é um processo silencioso que leva à inflamação crônica e ao desenvolvimento de outras doenças que são consequência da obesidade. Às vezes, o adolescente pode não ser obeso, mas ter um acúmulo de gordura na região abdominal, o que tem associação muito forte com a alimentação. Quanto maior o consumo desses produtos ultraprocessados, maior o risco de obesidade, que pode provocar aterosclerose, diabetes e descontrole da pressão arterial. Esse adolescente pode passar a ter problemas que vêm encurtando a vida das pessoas – discorre a nutricionista, especialista em nutrição da criança e do adolescente.

Alerta para o Brasil

Enquanto nos Estados Unidos adolescentes trocam refeições pelos ultraprocessados, no Brasil, perigo está nos lanches — Foto: Istock Getty Images

Diversos trabalhos científicos demonstram o papel dos ultraprocessados no aumento dos riscos de obesidade entre a população geral. Daniela Neri observa que estudos menores já indicavam esses riscos em crianças e adolescentes, porém não podiam ser extrapolados para essas faixas etárias em termos populacionais ou para outros países. Segundo a nutricionista, os resultados desse trabalho que conduziu servem de alerta e podem ser aplicados à população pediátrica americana e de qualquer país, incluindo o Brasil, onde o consumo desses produtos também ganha espaço na dieta de adolescentes.

De acordo com Neri, em outro estudo realizado no Nupens, foi possível conhecer os padrões alimentares de crianças e adolescentes do Brasil a partir da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2017-2018, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Esses dados foram comparados com inquéritos nacionais semelhantes realizados na Argentina, Austrália, Chile, Colômbia, México, Estados Unidos e Reino Unido. A nutricionista informa que, no Brasil, os ultraprocessados representam 27% da dieta de crianças e adolescentes, enquanto que em países como Reino Unido e Estados Unidos pode chegar a 68% e 66%, respectivamente.

Considerando esse cenário e os resultados desses estudos, Neri comenta que nos Estados Unidos, muitas vezes esses itens substituem completamente as refeições principais, como café da manhã, almoço e jantar. No Brasil, há um entendimento maior entre a população do padrão alimentar que promove saúde, difundido por iniciativas como o Guia Alimentar para a População Brasileira, que incentiva as preparações culinárias e o consumo dos alimentos in natura. Essa concepção, segundo a nutricionista, pode estar por trás do cenário particular do país. Sim, a pesquisa indica que há uma participação e um aumento desses produtos na alimentação dos jovens brasileiros. Entretanto, de uma forma geral, no Brasil, esses itens aparecem mais nos lanches, não nas refeições principais.

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– Nos Estados Unidos, quase tudo o que se come é comida pronta. Algumas gerações não têm o hábito de cozinhar. Muitos pais, quando buscam os filhos na escola, por exemplo, passam por um drive-thru para comprar comida pronta, e como a demanda é alta, o custo desses produtos é baixo. No Brasil, a gente tem um cenário mais promissor. Nossos adolescentes também consomem ultraprocessados, mas nossa cultura alimentar é muito forte. Enquanto nos EUA dois terços das calorias totais dos adolescentes vêm desses produtos, no Brasil respondem por um quarto das calorias totais da dieta. A gente sabe que na base da nossa alimentação predomina a preparação dos alimentos tradicionais, como arroz e feijão – analisa Neri, emendando que isso não exclui a necessidade de famílias e poder público promoverem mais esse padrão que inclua mais alimentos in natura na dieta, deixando de lado os ultraprocessados.

Dicas da especialista

Envolver as crianças no preparo das refeições é estratégia para estabelecer bom padrão alimentar e, de quebra, fortalecer vínculos familiares — Foto: Reprodução/Internet

Daniela Neri comenta a infância e a adolescência são fases importantes para criar e manter hábitos alimentares saudáveis que acompanharão esses jovens por toda a sua vida. É claro que quando a criança passa a conviver em outros espaços sociais, como a própria escola, acaba tendo contato com opções de alimentos que não aquelas que se tem em casa. Na adolescência essa situação muda ainda mais, já que o jovem passa a ter mais autonomia para as escolhas do que comerá. Mas quando há uma boa base, como reitera a nutricionista, esses meninos e meninas estarão menos sujeitos aos ultraprocessados.

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Para ajudar a formar essa boa base alimentar de crianças e adolescentes, o EU Atleta, com o apoio da nutricionista aponta algumas dicas:

1. Prepare mais alimentos em casa e faça das frutas, legumes, verduras e leguminosas a base da alimentação no seu lar. Para isso, será necessário reservar um tempo para a cozinha;

2. Faça um planejamento para as compras, já pensando no cardápio da semana;

3. Envolva as crianças e adolescentes nessas tarefas, desde o planejamento e as compras até o preparo da comida. Assim, criarão uma relação melhor com os alimentos e ainda será possível fortalecer os vínculos afetivos da família;

4. Não apresente a comida feita em casa e os alimentos in natura como algo que faz bem e ajuda a crescerem saudáveis. Isso é um fato, realmente, mas procure conquistar as crianças chamando a atenção para os sabores, cores e aroma desses alimentos para ajudar a desenvolver o prazer de comer comida de verdade;

5. Valorize a comida tradicional brasileira. Aposte, por exemplo, no clássico feijão com arroz, acompanhado de hortaliças e proteína animal, se faz o consumo de carnes. Nos cafés e lanches, prefira frutas, cereais, iogurtes naturais e pães caseiros ou processados com uma boa procedência;

6. Considerando que os lanches são o ponto fraco dos adolescentes brasileiros quando se trata dos ultraprocessados, além de apostar em frutas, procure preparar também quitutes saudáveis e com ingredientes menos refinados, como biscoitos com aveia. O importante é evitar oferecer os ultraprocessados aos seus filhos nessas refeições;

7. Evite ter produtos alimentícios ultraprocessados em casa. Quando a criança e o adolescente começam a consumir muito esses itens, podem se desinteressar pela comida de verdade, pois os aditivos presentes nesses artigos vão transformando o seu paladar para rejeitarem o que é preparado em casa e os alimentos in natura;

8. Ao comer na rua ou mesmo se precisar pedir comida em casa em algum momento, procure opções mais semelhantes à comida que seria preparada em casa. No Brasil, dá para encontrar restaurantes que oferecem opções de refeições mais saudáveis;

9. Lembre-se: dê exemplos. Não adianta, por exemplo, beber refrigerantes e falar para o seu filho que aquela é uma bebida de adulto, na tentativa de evitar que eles tomem. Os responsáveis e a família servem de modelo para as crianças. Por isso, incentive bons hábitos e boas escolhas alimentares.

– É preciso olhar para o microambiente da casa para formar hábitos saudáveis. As crianças podem ter prazer em comer a comida de verdade. É possível formar o paladar para que aceitem bem alimentos in natura e preparos feitos em casa. Os ultraprocessados têm dois sabores que o ser humano aceita bem, o doce e o salgado. Ao comer biscoitos recheados diferentes, encontra o mesmo sabor, diferentemente das frutas e de um prato de comida em que se usa ingredientes que proporcionam sabores distintos. Quando cresce em um ambiente com essas opções, a criança e o adolescente têm um paladar muito mais diverso – constata a nutricionista.

Ela destaca ainda que embora essa base seja construída em casa, não se pode responsabilizar apenas os pais pelo aumento no consumo dos ultraprocessados, já que há um investimento da indústria alimentícia para tornar esses alimentos mais atrativos, e o poder público também tem papel importante para ajudar a frear o aumento da presença desses produtos na dieta do brasileiro.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Daniela Neri é nutricionista e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (NUPENS) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da Universidade de São Paulo (USP). PhD, é especialista em nutrição da criança e do adolescente. A nutricionista estuda o consumo de alimentos, particularmente de ultraprocessados, e seus efeitos na qualidade da dieta e na saúde de crianças e adolescentes.

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/noticia/2022/04/05/ultraprocessados-aumentam-risco-de-obesidade-em-adolescentes-em-45percent.ghtml

 

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