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Quarentena não pode ser desculpa para inatividade física; entenda os riscos

Atualmente, o mundo sofre com a pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), síndrome respiratória aguda grave, que causa a covid-19. Um relatório mostrou que as comorbidades mais frequentes em pacientes com covid-19 que desenvolveram dificuldade respiratória aguda foram hipertensão (27%), diabetes (19%) e doenças cardiovasculares (6%).

Sabemos que medidas simples, como praticar exercícios físicos e ter uma alimentação adequada, ajudam no controle de patologias crônicas que podem estar vinculadas ao excesso de gordura corporal, desencadeando problemas relacionados a tal e também ao enquadramento em um grupo de alto risco durante e após o período de isolamento.

Um estudo publicado este mês por Tiago Peçanha e colaboradores no American Journal of Phisiology mostra uma associação interessante entre isolamento, inatividade e risco de doenças cardiovasculares. O artigo aponta que é provável que o isolamento domiciliar resulte em uma redução nos níveis de atividade física moderada a vigorosa e aumente comportamentos sedentários.

Para vocês terem uma ideia, um estudo de 2018 publicado no American Journal of Epidemiology mostrou que o tempo em que passamos sedentários está associado a um aumento de marcadores de riscos cardiometabólicos —como aumento da circunferência abdominal, da pressão arterial, do nível de glicose, insulina e triglicerídeos no sangue e redução do colesterol “bom” (HDL).

Assim, em longo prazo, comportamentos sedentários podem levar à morte por diversas causas, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes e alguns tipos de câncer. Outro estudo, também de 2018, apontou que pessoas que ficam mais de seis horas por dia sentadas têm uma taxa de mortalidade 19% maior em comparação a quem passa menos de três horas na cadeira.

Mas tudo o que estamos vivendo atualmente é muito novo. O impacto real do isolamento mundial nos níveis de atividade física está bem claro. A Fitbit, empresa americana que desenvolve pulseiras fitness que rastreiam o nível de atividade física de um indivíduo, compartilhou dados recentes de atividade física de 30 milhões de usuários. O levantamento demonstra uma redução substancial —variando de 7% a 38%— na contagem média de etapas em quase todos os países durante a semana que termina em 22 de março de 2020, em comparação com o mesmo período do ano passado. Essa evidência preliminar sugere que a quarentena pode provocar um declínio substancial nos níveis de atividade física, tendo influência sobre a saúde geral do indivíduo.

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Há evidências de que os efeitos prejudiciais da inatividade na função cardiovascular se desenvolvem em um período curto, conforme listo abaixo:.

Efeitos prejudiciais da inatividade física na saúde cardiovascular

Atrofia e disfunção cardíaca;

Remodelamento vascular com estreitamento luminal;Aumento da rigidez arterial;

Aumento da rigidez arterial;

Aumento da rigidez arterial;

Disfunção endotelial na micro e macrocirculação;

Aumento do estresse oxidativo e inflamação;

Piora do perfil cardiovascular (aumento de gordura corporal, colesterol no sangue e resistência à insulina);

Aumento do risco de mortalidade cardiovascular.

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Benefícios da prática regular de exercícios em casa durante o isolamento social.

Melhorias na aptidão e capacidade de exercício;

Prevenção de prejuízo induzido pelo comportamento sedentário na função cardiovascular;

Melhor controle dos fatores de risco cardiovascular (composição corporal, sensibilidade à insulina, redução de colesterol e glicose no sangue, diminuição da pressão arterial);

Prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares;

Risco reduzido de mortalidade cardiovascular.

A coluna da Paola Machado entrevistou Tiago Peçanha para esclarecer dúvidas importantes sobre o tema.

Seu estudo mostra os problemas relacionados a inatividade física como o risco cardiovascular. Você acredita que com esse aumento do nível de inatividade, com o isolamento, não podemos também aumentar a quantidade de população de alto risco no pós-quarentena? Tiago Peçanha:

Sim. Primeiramente, precisamos lembrar que a inatividade física também já é considerada por muitos como uma pandemia, e os impactos na nossa sociedade são muito significativos. Para colocar números nesta conversa, estima-se que pelo menos 1/3 da população mundial seja fisicamente inativa, ou seja, não atinja 150 minutos de atividade física moderada a intensa por semana. A inatividade física é o 4º principal fator de risco para morte no mundo. Estima-se que cerca de 5 milhões de mortes anuais sejam explicadas pela insuficiência de atividade física.

Além disso, a inatividade física também pode contribuir para o aumento da pressão arterial, diabetes e obesidade, que são todos eles fatores de risco importantes para mortalidade. Este é o cenário que já estávamos enfrentando antes da quarentena e do distanciamento físico. Com as medidas de restrição adotadas, a tendência é que mais pessoas se tornem inativas, e isto já está sendo demonstrado pelos levantamentos que têm sido feitos. No Brasil, um levantamento recente demonstrou que 60% das pessoas diminuíram o seu nível de atividade física durante a quarentena.

Como podemos driblar esse problema?

TP: Embora a quarentena dificulte, ela não impede a prática de atividades físicas. Estudos têm demonstrado que a atividade física realizada no ambiente domiciliar produz efeitos positivos sobre a saúde geral, cardiovascular e metabólica. A meta continua sendo realizar 150 minutos de atividade física de intensidade moderada a intensa, por semana. Andar pela casa como, pular corda, exercícios com o peso do corpo e alongamentos podem ajudar a atingir esta meta. Além disso, outro importante aspecto é o tempo que a gente passa sentado e deitado ao longo do dia, que é chamado comportamento sedentário. Períodos prolongados nesses comportamentos devem ser evitados e substituídos por comportamentos mais ativos, como ficar de pé ou fazer leves deslocamentos pela casa.

Populações com patologias crônicas necessitam de exercícios combinados e supervisionados para manter a saúde e bem-estar. Só que as academias estão fechadas e são necessárias medidas de distanciamento social. Como fazer com que essas pessoas encontrem um equilíbrio entre a patologia e os cuidados relacionados ao coronavírus?

TP: Este é um desafio importante. Para populações de risco, a supervisão por um profissional habilitado é desejável e precisa ser estimulada. As academias não são o melhor lugar para buscar este acompanhamento, neste momento. Acredito que a pandemia trouxe a importância de utilizarmos a tecnologia para favorecer o contato entre o profissional e o praticante de exercício. Os smartphones permitem comunicação instantânea por mensagem de texto, por áudio ou vídeo. É fundamental que esta comunicação esteja bem calibrada para que o praticante possa informar ao profissional o aparecimento de qualquer dificuldade ou sinais e sintomas sugestivos de doença cardiovascular ou pulmonar. Além disso, alguns aplicativos permitem medir o número de passos diários, os batimentos cardíacos, dentre outras informações importantes, que podem ser compartilhadas com o profissional, ajudando a controlar a frequência e a intensidade do treino. Para indivíduos sintomáticos ou com problemas cardíacos ou respiratórios, a liberação médica continua sendo um aspecto importante e que precisa ser considerada.

Hoje em dia temos diversos profissionais –e não profissionais– passando treinos pela internet para suprir a ausência da academia. Você acha uma boa estratégia para combater a inatividade? Quais cuidados o indivíduo deve tomar no momento de escolha das modalidades e do profissional ou influenciador?

TP: Gosto dos treinos pela internet e acredito que eles favoreçam o acesso da população à prática de atividade física. É importante que esses treinos sejam dados por profissionais de educação física com registro no conselho profissional e com o devido treinamento para lidar com todas estas tecnologias. É necessário que haja uma fiscalização para conter o exercício ilegal da profissão, mas também é importante educar a população para que ela consiga identificar o bom profissional. É possível fazer buscas na internet para ver se o profissional tem registro no conselho profissional. Se for um serviço individual, o praticante também pode pedir ao profissional que forneça evidências de formação profissional e de treinamento.

Precisamos desconfiar de “profissionais” que vendem soluções milagrosas, imediatistas, e que se aproveitam da boa-fé das pessoas. Dito isto, temos muitos profissionais de boa qualidade que têm feito um trabalho muito legal nas redes sociais neste período.

Muitos estudos demonstraram a viabilidade, segurança e eficácia de diferentes modelos de programas de exercícios em casa na prevenção primária e secundária de doenças cardiovasculares e grandes eventos cardiovasculares entre diferentes populações. Esse conjunto de conhecimentos pode informar que políticas baseadas em evidências devem ser implementadas com urgência para combater o impacto do aumento da inatividade física e do comportamento sedentário durante o surto de covid-19, aliviando a carga global de doenças cardiovasculares e outras comorbidades associadas a inatividade e alimentação desregrada.

*Colaboração do doutor em ciências pela Escola de Educação Física (USP), pesquisador do Grupo de Pesquisa em Fisiologia Aplicada e Nutrição (USP), Tiago Peçanha.

Referências

– Peçanha, T.; et al. Social isolation during the COVID-19 pandemic can increase physical inactivity and the global burden of cardiovascular disease. Am J Physiol Heart Circ Physiol 318: H1441-H1446, 2020.

– Schiffrin, E.L.; et al. Hypertension and COVID-19. American Journal of Hypertension, Volume 33, Issue 5, May 2020, Pages 373-374, https://doi.org/10.1093/ajh/hpaa057.

– Ghosh-Swaby, O.R.; et al. Glucose-lowering drugs or strategies, atherosclerotic cardiovascular events, and heart failure in people with or at risk of type 2 diabetes: an updated systematic review and meta- analysis of randomised cardiovascular outcome trials. Lancet Diabetes Endocrinol 2020; 8: 418-35.

– Whitaker, K.M.; et al. Sedentary Behaviors and Cardiometabolic Risk: An Isotemporal Substitution Analysis. AMERICAN JOURNAL OF EPIDEMIOLOGY. Vol. 187 Nr. 2 Página: 181 – 189 Data da publicação: 01/02/2018.

– Patel, A.V.; et al. Prolonged Leisure Time Spent Sitting in Relation to Cause-Specific Mortality in a Large US Cohort. AMERICAN JOURNAL OF EPIDEMIOLOGY.Vol. 187 Nr. 10 Página: 2151 – 2158 Data da publicação: 01/10/2018.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site saudevitalidade.com

Por: Paola Machado Colunista do UOL

Fonte: Paola Machado é formada em educação física modalidade em saúde pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo), mestre em ciências da saúde (foco em fisiologia do exercício) e doutoranda em nutrição pela UNIFESP. É autora do Livro Kilorias – Faça do #projetoverão seu estilo de vida (Editora Benvirá). Atualmente, atua como pesquisadora, desenvolvendo trabalhos científicos sobre obesidade, e tem um canal de desafios (30 Dias com Paola Machado) onde testa a teoria na prática. Também é fundadora do aplicativo 12 semanas. CREF: 080213-G | SP

Transcrito: https://www.uol.com.br/vivabem/colunas/paola-machado/2020/06/09/quarentena-nao-pode-ser-desculpa-para-inatividade-fisica-entenda-os-riscos.htm

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