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Ortorexia nervosa: entenda o que é o transtorno alimentar

No Dia Mundial da Saúde Mental, especialistas explicam causas, sintomas e tratamentos de um comportamento nutricional obsessivo que afeta a qualidade de vida, gera isolamento social e pode causar complicações de saúde graves

A busca por um estilo de vida saudável, com alimentação regrada, é importante. Mas pode se tornar um transtorno alimentar e comportamental conhecido como ortorexia nervosa quando há muita rigidez e obsessão com a dieta. A ortorexia é caracterizada pelo incessante desejo pela qualidade e conhecimento da origem dos alimentos, o que pode levar a uma grande restrição alimentar por quem sofre com a condição, causando problemas de saúde como deficiências nutricionais e perda de peso. A pessoa passa a criar comportamentos alimentares que ela acredita serem saudáveis, mesmo que não sejam, e se torna obcecada por certos alimentos. Apesar de não ser reconhecida como um transtorno alimentar no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), ela merece atenção e cuidado profissional.

Na ortorexia nervosa, a pessoa cria comportamentos obsessivos em relação a alimentos que ela acredita serem saudáveis e restringe outros, mesmo que também sejam saudáveis – Foto: Reprodução/Internet

Em termos médicos, Higor Caldato, médico psiquiatra especialista em psicoterapias e transtornos alimentares, explica que a ortorexia se refere a uma obsessão doentia pela alimentação saudável e pela busca obsessiva por alimentos considerados “puros” ou “limpos”.
– Pessoas que sofrem de ortorexia tendem a ficar excessivamente preocupadas com a qualidade e a composição dos alimentos que consomem, evitando alimentos que consideram prejudiciais à saúde – comenta.

Essa preocupação excessiva pode levar a comportamentos restritivos severos, como cortar grupos inteiros de alimentos, como carboidratos ou gorduras, mesmo que sejam componentes essenciais de uma dieta equilibrada. À medida em que o quadro progride, a qualidade de vida vai sendo afetada, pois a pessoa pode se isolar socialmente devido às dificuldades de encontrar alimentos “aceitáveis” em situações sociais ou restaurantes.

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Um caso recente chamou a atenção para esse problema: em agosto, a influenciadora russa Zhanna Samsonova de 39 anos, conhecida como Zhanna D’Art nas redes sociais, morreu em consequência de problemas de saúde causados pelo seu comportamento alimentar muito restritivo, que incluía apenas frutas, vegetais crus e brotos de semente de girassol há 10 anos, e por não beber água, apenas smoothies e sucos de frutas, há seis anos.

A ortorexia ainda não é reconhecida como um diagnóstico oficial no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) ou na Classificação Internacional de Doenças (CID-10), mas tem sido discutida na comunidade médica e psicológica como um possível transtorno alimentar. Higor aponta que a linha entre uma alimentação saudável e uma preocupação patológica com a alimentação pode ser tênue e, o diagnóstico preciso e tratamento adequado geralmente requerem a avaliação de um profissional de saúde mental e nutricionista.

Sintomas

Foto: Reprodução/Internet

1. Preocupação extrema com a qualidade dos alimentos;

2. Restrições alimentares severas, com grande redução de variedade de alimentos, causando deficiência de nutrientes importantes para a saúde;
Preocupação excessiva com a preparação dos alimentos: a pessoa pode gastar muito tempo lendo rótulos e preparando alimentos, evita refeições feitas por outras pessoas por medo de que não atendam a seus padrões alimentares;

3. Preocupação excessiva com a preparação dos alimentos: a pessoa pode gastar muito tempo lendo rótulos e preparando alimentos, evita refeições feitas por outras pessoas por medo de que não atendam a seus padrões alimentares;

4. Ansiedade em relação a alimentos “proibidos”;

5. Isolamento social;

6. Comportamento obsessivo;

7. Impacto negativo na qualidade de vida;

8. Deficiências nutricionais que podem causar baixa de imunidade e doenças. Eleonora Galvão, especialista em nutrição vegana e vegetariana, explica que a ortorexia pode causar complicações clínicas na saúde do indivíduo. Podem ocorrer:

– Danos cerebrais;

– Insuficiência de órgãos;

– Danos ósseos pelas múltiplas carências nutricionais geradas;

– Problemas cardíacos e risco de parada cardiorrespiratória;

– Amenorreia, quadro onde a mulher perde o ciclo menstrual por um período;

– Infertilidade;

– Em casos mais graves, morte.

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Causas

As causas específicas da ortorexia ainda não são completamente compreendidas, e assim como de alguns outros transtornos alimentares. Ela provavelmente surge de uma combinação de fatores biológicos, psicológicos e sociais. Alguns dos principais fatores incluem:

– Tendência a perfeccionismo;

– Pressão social e cultural para padrões rigorosos de alimentação para que as pessoas se sintam aceitas ou se enquadrem em determinados grupos sociais;

– Excesso de informação sobre saúde e alimentação visto por pessoas que não conseguem ter uma visão crítica e que não buscam ajuda profissional para um cuidado à saúde de maneira individualizada;

– Histórico de algum transtorno alimentar, como anorexia nervosa ou bulimia nervosa.

Diagnóstico

Segundo Eleonora, o diagnóstico da ortorexia deve avaliar a linha tênue que existe entre a busca de uma alimentação saudável e um possível comportamento patológico e restritivo em torno do que a pessoa acredita ser uma alimentação saudável. Deve-se também excluir outros transtornos psiquiátricos que possam levar a esse comportamento, como um transtorno obsessivo compulsivo, quando a comida inadequada é parte do comportamento obsessivo e quadros ansiosos e um medo de contaminação com alimentos faz com que se abra mão de uma série de alimentos.

Tratamento

O diagnóstico e o tratamento devem ser feitos por uma equipe multidisciplinar, com apoio do nutricionista, psiquiatra e psicólogo.

– Ao longo do tratamento, deve-se ampliar o repertório alimentar, reduzir gradualmente as restrições formadas e melhorar a densidade nutricional do hábito alimentar do indivíduo, melhorando também o estado de saúde e corrigindo as carências nutricionais geradas. Outro objetivo do tratamento é prevenir as alterações que esse comportamento trouxe, com tratamento medicamentoso quando houver indicação, para reduzir a ansiedade que o ajuste alimentar e tratamento podem gerar – comenta Eleonora.

Existe boa perspectiva de recuperação. O paciente com ortorexia é bastante preocupado com a saúde, então quando a pessoa entende os riscos que está correndo, tende a sair de maneira mais rápida desse quadro do que em transtornos alimentares, como a anorexia nervosa.

– Cada pessoa pode responder de maneira diferente às intervenções terapêuticas. A terapia cognitivo comportamental é uma abordagem terapêutica comprovada que pode ajudar a identificar padrões de pensamentos e comportamento disfuncionais associados à ortorexia – complementa Higor.

O psiquiatra afirma que essa é uma das principais diferenças entre ortorexia e anorexia, por exemplo: na ortorexia, o foco principal é a busca por uma alimentação perfeita, “pura”, “limpa”; na anorexia o foco é a restrição alimentar severa independentemente do que se coma principalmente por medo do ganho de peso ou da forma do corpo; com um sofrimento emocional muito significativo.

Outros distúrbios alimentares mais comuns

Anorexia nervosa:

1. Restrição da ingestão alimentar relacionada a questão de autoimagem distorcida, levando a um peso corporal significativamente baixo, no contexto da idade, sexo, etapas do desenvolvimento e saúde física;

2. Medo intenso de ganhar peso ou se tornar gordo, ou comportamentos persistentes que interferem com o ganho de peso, mesmo que com o peso significativamente baixo;

3. Distúrbio na autopercepção do peso ou forma, com persistente falta de reconhecimento da gravidade do baixo peso atual.

Transtorno de Compulsão Alimentar:

1. Comer, em um período de tempo definido (exemplo, dentro de um período de 2 horas), uma quantidade de comida muito maior do que a maioria das pessoas come durante o mesmo período de tempo e em circunstâncias semelhantes;

2. Sentimento de falta de controle sobre a alimentação durante o episódio (exemplo: não consegue parar de comer ou controlar o que ou o quanto está comendo);

3. Comer muito mais rapidamente do que o normal;

​​4. Comer até sentir-se fisicamente mal;

5. Consumir grandes quantidades de alimentos, quando não está fisicamente faminto​;

6. Comer sozinho por vergonha do quanto está se comendo;

7. Sentir repulsa por si mesmo, depressão ou demasiada culpa após comer excessivamente.

Bulimia nervosa:

1. Episódios recorrentes de compulsão alimentar (descritos acima);

2. Recorrentes comportamentos compensatórios inadequados, a fim de evitar ganho de peso, tais como a autoindução de vômitos, uso de laxantes, diuréticos, enemas ou outros medicamentos, jejum ou exercício excessivo.

Por: Alberto Borges, para o EU Atleta — Campinas / SP

Fonte: Higor Caldato (@drhigorcaldato), médico psiquiatra e sócio do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), especialista em psicoterapias e transtornos alimentares. Graduado em medicina pelo Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos (ITPAC/FAHESA) e fez sua residência médica em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), bem como suas especializações de psicoterapias e transtornos alimentares e obesidade, também pela universidade carioca.

Eleonora Galvão, nutricionista especialista em nutrição vegana e vegetariana. Com título de especialista em Nutrição Funcional pela UFRJ e especialista em transtornos alimentares e obesidade pela PUC RJ – CRN: 20101323.

Transcrito:https://ge.globo.com/eu-atleta/saude-mental/reportagem/2023/10/10/ortorexia-nervosa-entenda-o-que-e-o-transtorno-alimentar.ghtml

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