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O que acontece com o corpo quando você come ultraprocessados

Médica endocrinologista e nutricionista explicam o que o consumo frequente de alimentos altamente processados pode causar no organismo no curto e no longo prazo. Entenda

Quanto mais baseada em alimentos in natura, como frutas, legumes e verduras, e minimamente processados, melhor é a dieta. Mas a vida moderna e a busca pela praticidade prometida pelos ultraprocessados contribuem para o aumento do consumo desses produtos. Um exemplo claro dessa relação é que, durante a pandemia, foi notado um aumento na presença dos ultraprocessados na alimentação dos brasileiros. Mesmo atletas e praticantes de exercícios recorrem a industrializados que prometem ser fitness, como shakes e barrinhas de cereais. O EU Atleta conversou com a médica da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (Sbem-SP) Maria Edna de Melo e com a nutricionista do Nupens Maria Alvim para entender o que acontece no corpo quando você come ultraprocessados.

Enquanto alimentos in natura e minimamente processados oferecem mais macro e micronutrientes, ultraprocessados são ricos em aditivos químicos, sódio, açúcar e gordura — Foto: Reprodução/Internet

Doutora em Ciências, na área de Endocrinologia pela USP, Maria Edna de Melo comenta que os estudos que se tem conhecimento sobre os efeitos dos ultraprocessados consideram dados populacionais e relacionam o seu consumo aos riscos de obesidade, câncer, diabetes e outras doenças crônicas não transmissíveis que estão entre as maiores causas de morte no mundo.

– Como os estudos sobre os ultraprocessados começaram a ser realizados de sete anos pra cá e há só um ensaio clínico randomizado, é difícil falar o sobre o que acontece no corpo baseado na literatura. Mas é possível fazer uma analogia como se fôssemos máquinas. Se os alimentos são combustíveis e esse combustível não é bom, é como quando se coloca uma gasolina ruim no carro. Se fizer isso por muito tempo, o motor será danificado. O mesmo acontece com os alimentos. A pessoa ganha peso e o organismo fica metabolicamente desregulado, o que é mais difícil de tratar. Obesidade é mais fácil de prevenir do que de tratar porque a fome é maior uma vez que a doença é instalada. A pessoa perde essa regulação fina e acaba tendo muito mais dificuldade para consumir menos e resistir às tentações – discorre a médica endocrinologista.

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A endocrinologista conta que que há um ensaio clínico que demonstrou que esses produtos industrializados podem favorecer o ganho de peso. O estudo foi realizado ao longo de quatro semanas e submeteu os participantes, de forma alternada, a dietas com alimentos in natura ou minimamente processados e baseada em ultraprocessados. Nas duas semanas consumindo os ultraprocessados, os voluntários chegaram a ganhar, em média, mais de 900 gramas. Já ao consumir alimentos in natura ou pouco processados, tiveram uma redução média de 900 gramas nesse mesmo intervalo de tempo. os 20 participantes ficaram em uma clínica por quatro semanas. As dietas eram equivalentes em quantidade de calorias, macronutrientes, açúcar, sódio e fibras, diferenciando-se apenas no grau de processamento dos alimentos.

– Quando consumiam só ultraprocessados, pioravam tudo. Os participantes ganharam peso, aumentaram os níveis séricos de gordura e o açúcar no sangue, apresentaram um aumento na pressão sanguínea e pioraram em todas as métricas que são marcadores de uma alimentação saudável – comenta a nutricionista, emendando que no Brasil, 20% da população que menos consome ultraprocessados consegue atingir as metas de carboidrato, açúcar, gorduras, sódio, fibra e potássio apontadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para redução da obesidade e doenças crônicas pelo simples fato de comer alimentos mais saudáveis.

O que acontece ao comer ultraprocessados

Pela alta palatabilidade, é difícil controlar o consumo dos ultraprocessados, que são muito calóricos e corrompem a regulação do balanço energético — Foto :Reprodução/Internet

No curto prazo

– Come-se mais. Por serem altamente palatáveis, seu consumo ativa áreas do cérebro responsáveis pela recompensa e é difícil parar de comer;

– Aumento do aporte calórico e comprometimento da regulação do balanço energético;

– Maior consumo de açúcar, sódio e gordura;

– Redução no consumo de micronutrientes, como vitaminas e sais minerais;

– Aumento da retenção de líquidos e da sensação de inchaço;

– Ganho de peso. No único ensaio clínico randomizado até o momento, os participantes tiveram o peso aumentado ao consumir ultraprocessados, ganhando cerca de 900g em duas semanas; tanto que os autores sugerem limitar o consumo desses produtos como estratégia para prevenir e tratar obesidade;

– Aumento dos níveis de gordura e açúcar no sangue, com desregulação dos índices glicêmico e de colesterol e trigliceríderos;

– Alterações na pressão arterial, com tendência a aumento do risco de hipertensão, especialmente pelo excesso de sódio no sangue.

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No longo prazo

– Ocorrência de problemas metabólicos, especialmente se o consumo for continuado, em grandes quantidades e por muito tempo;

– Risco de obesidade;

– Desenvolvimento de doenças crônicas, como:

1. Diabetes, pelo excesso de açúcar e pela falta de fibras e outros micronutrientes importantes;

2. Hipertensão arterial;

3. Diversos tipos de câncer, especialmente de mama, conforme demonstram estudos;

4. Doenças cardiovasculares, em função da pressão alta e do aumento dos índices de colesterol e triglicerídeos;

– Aumento do risco de morte por todas essas causas citadas acima;

– Desregulação do trânsito intestinal;

– Aumento dos riscos de depressão, como já sugerem pesquisas.

Dicas para evitar os ultraprocessados

Planeje-se para ir ao mercado e respeite a lista de compras para evitar cair nas armadilhas dos ultraprocessados — Foto: Reprodução/Internet

1. Lembre-se da máxima: descasque mais, desembale menos. Prefira os alimentos in natura e integrais. Quanto menos processado for, melhor;

2. Não se engane: produtos ultraprocessados enriquecidos com vitaminas ou vendidos com a promessa de serem saudáveis, como as barrinhas de cereais, também podem ser prejudiciais à saúde;

3. Planeje-se para preparar mais refeições em casa. É compreensível que, na correria do dia a dia, seja difícil cozinhar. Por isso o planejamento, que começa na lista do supermercado, é um grande aliado para conseguir atingir esse objetivo;

4. Evite ter ultraprocessados em casa. Na hora em que bater vontade de comer alguma coisa, se tiver esses produtos à mão, há o risco de acabar fazendo essa opção;

5. Ao fazer compras, saia de casa com uma lista e siga à risca o que está nela. Assim, você evita ser fisgado pelos ultraprocessados e ainda compra os ingredientes certos para as receitas planejadas para a semana;

6. Aposte sempre em uma dieta balanceada. Trocar um ultraprocessado por um prato cheio de carboidrato e proteína animal não oferece todos os nutrientes necessários para o seu dia a dia. Inclua leguminosas, frutas, legumes e verduras na sua dieta.

Segundo a endocrinologista Maria Edna de Melo, os ultraprocessados comprometem a regulação do balanço energético. Essas são opções altamente palatáveis e geralmente muito calóricas. Sem contar que têm baixo valor nutricional. Por causa dessa alta palatabilidade, é difícil comer um pouquinho. E como o corpo tende a economizar energia, ao recorrer a esses produtos alimentícios vendidos como sendo gostosos e práticos de consumir, há esse prejuízo nessa regulação.

– Esses produtos não são para nutrir. Eles são vendidos destacando características de que são muito gostosos e que não dão trabalho: é só abrir o pacote e comer. É muito difícil de controlar seu consumo pela alta palatabilidade e porque seu consumo acaba atingindo regiões de prazer. Enquanto o hipotálamo regula o apetite homeostático, que envolve o que precisamos como fonte de energia para manter as funções, há o sistema límbico, que não quer saber se precisa daquele alimento e faz com que não haja muita racionalidade na hora de comer – explana a médica.

Especialistas alertam que os ultraprocessados são opções prejudiciais para a saúde. Em um trabalho recente, pesquisadores do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), observaram a relação direta entre seu consumo e aumento do risco de obesidade, inclusive a visceral, associada ao desenvolvimento de doenças crônicas, entre adolescentes.

A nutricionista comenta que o termo ultraprocessados foi criado por pesquisadores do Nupens, em 2009, para conceituar produtos industrializados altamente refinados e adicionados de corantes, aromatizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos que dão textura, cor e sabor e conservam o produto por mais tempo, mas não contribuem com nutrientes. Maria Alvim aponta que há dois problemas quando se come ultraprocessados: o primeiro é a ingestão desses aditivos químicos, além do excesso de sal, açúcar e gordura; o outro é que se deixa de comer o alimento mais saudável, que beneficiará o seu organismo com mais fibras, proteínas e micronutrientes, como vitaminas e sais minerais, passando a consumir algo que fará mal para o corpo. Afinal, dificilmente se combinará uma lasanha congelada industrializada, por exemplo, com uma salada.

– A comida de verdade é a culturalmente mais apropriada. Nossa cultura envolve comer arroz, feijão, salada, não hambúrguer com nuggets. Quando comemos comida de verdade, socializamos muito mais e é mais provável que se coma em um ambiente mais legal, do que quando se escolhe um produto em pacote ou uma lasanha congelada – observa a nutricionista, emendando que o alerta sobre os ultraprocessados também vale para atletas e praticantes de exercícios físicos: – Há um público que acaba consumindo ultraprocessados que têm a mítica de serem saudáveis, diet ou light. É preciso ficar bem atento a barras proteicas e shakes que têm essa premissa. Às vezes a resposta mais prática está na comida de verdade, como um suco natural, frutas e castanhas.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fontes: Maria Alvim é nutricionista, doutora em Saúde Coletiva pela Universidade de São Paulo e pesquisadora do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Faculdade de Saúde Pública da USP.

Maria Edna de Melo é doutora em Ciências, na área de Endocrinologia pela Universidade de São Paulo, chefe da Liga de Obesidade Infantil do Hospital das Clínicas da USP e endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (Sbem-SP).

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/noticia/2022/05/10/o-que-acontece-com-o-corpo-quando-voce-come-ultraprocessados.ghtml

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