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Falta de informação e preconceito atrapalham combate à obesidade

Causas da doença, que pode quadruplicar em jovens até 2030, vão além da conta “ingestão calórica x gasto energético”. Cris Perroni aponta necessidade de estratégia individualizada para cada paciente

Dois artigos publicados na Revista da ABESO (Associação Brasileira para Estudos da Obesidade e Síndromes Metabólicas) pela jornalista Luciana Oncken e pelo médico endocrinologista Rogério Friedman nos fazem pensar sobre a história da obesidade, do preconceito à neurociência, o que temos de evidências científicas e a necessidade de rever tratamentos.

A obesidade e o excesso de peso crescem exponencialmente em todo o mundo e mesmo com a quantidade de informações nos dias de hoje ainda há muito preconceito e desinformação sobre a obesidade. Ela esteve sempre associada à “falta de vergonha na cara, falha de caráter, preguiça, falta de força de vontade, desleixo, falta de auto-controle e comportamento impróprio. Entretanto, é uma doença multifatorial: inúmeras causas, envolvendo várias especialidades da área da saúde como médicos (endocrinologistas, psiquiatras, geneticistas, neurocientistas …), psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e educadores físicos.

Cada indivíduo tem uma história do por que chegou ao excesso de peso, muito além da velha matemática entre ingestão alimentar e gasto energético. As causas podem ser atribuídas à genética, estilo de vida – ambiente em que vive, história clínica (alterações metabólicas), alteração na microbiota intestinal, alteração no controle do fome e da saciedade, maior resposta a estímulos visuais a comida, sedentarismo e a participação da indústria e da publicidade.

O tratamento da obesidade não está relacionado à estética, mas à prevenção e promoção de saúde. A perda de 10% do peso e manutenção do peso perdido já traz benefícios no tratamento de hipertensão, doenças cardiovasculares, diabetes, alguns tipos de câncer e problemas articulares.

Os padrões de estética mudaram desde o século passado. Até o século XIX, o indivíduo obeso era reconhecido como próspero, rico, forte, saudável, fértil. Na metade do século passado começou a busca pela magreza, um padrão rígido de beleza, movimentando bilhões de dólares pela indústria do emagrecimento. Depois, veio o aparecimento de vários distúrbios alimentares como bulimia, anorexia, transtorno de compulsão alimentar periódica. Não melhoramos.

Estudos científicos mostram que não existe a tal “Obesidade Saudável”. É preciso combater a doença obesidade e não a pessoa com obesidade. Inúmeras são as estratégias para o combate e tratamento, entre medicamentos (sibutramina, orlistate, antidepressivos, antagonistas do GLP-1…), dietas, programa de exercício, cirurgia bariátrica, colocação de balão intragástrico e abordagem cognitivo-comportamental. Qual a melhor estratégia? ou Quais devem ser combinadas? Essa é a questão: cada indivíduo responde e precisa de uma forma o tratamento. Não tem receita de bolo, não atende a todos.

Alguns pontos Importantes:

– Cada indivíduo possui um objetivo, uma meta e o que motivou a chegar até a consulta. É fundamental acolher, não julgar e criar estratégias para mantê-lo motivado e focado. Sempre se lembrar por que começou.

– A redução de peso precisa ter “ritmo”, frequência regular ao consultório, quanto maior a distância entre as consultas maior a chance de perda de foco e abando no ao tratamento

– Alimentação é muito mais do que o quê comemos, do que carboidratos, proteínas e gorduras. Está relacionado com quem, onde, como comemos e o que sentimos.

– Não existe a melhor dieta (cetogênica, low carb, tradicional, jejum intermitente…), mas aquela que você melhor se adapta (melhor adesão) ou variar as estratégias durante o tratamento para evitar o “Efeito Platô”

– Realizar um programa alimentar de acordo com estilo de vida, história clínica, prática esportiva. Alimentação prazerosa e variada

– Integração entre a equipe multidisciplinar, troca de informação entre os profissionais

– Estimular a prática regular de exercício físico não somente pelo gasto energético, mas pela redução do estresse, controle metabólico, melhora da composição corporal, fortalecimento muscular, entre outros.

Meu mantra: fazer exercício físico não é uma opção, opção é a escolha da modalidade. Descubra qual atividade que te dá prazer, com certeza irá encontrar algo que goste e que pode ser mantido.

– É preciso estimular outros prazeres além da comida

– Esteja aberto a experimentações. Experimente novos alimentos, sabores, modalidades esportivas.

– Trabalhe seu comportamento – estimule o mindfullness – estar atento ao momento presente, atenção plena no que está fazendo agora. Valorizar as refeições, o ambiente e as pessoas envolvidas.

– Aproveite cada garfada, coma devagar, saboreando os alimentos. Lembre-se que os sabores e o prazer estão na boca, quanto maior o tempo de contato com o alimento maior o prazer e a saciedade

– Organize e planeje a sua alimentação

– Cozinhe mais ou aprenda a cozinhar, ajuda a melhorar a relação com a comida

HÁBITOS NÃO SÃO ADQUIRIDOS, HÁBITOS SÃO CONSTRUÍDOS

Literatura:
Revista ABESO – Evidências em Obesidade e Síndrome Metabólica n. 93, Maio\ Junho 20

Por: Cris Perroni, Rio de Janeiro


Fonte: Nutricionista formada pela UFRJ e pós-graduada em obesidade e emagrecimento. Tem especialização em nutrição clínica pela UFF, especialização em nutrição esportiva pela Universidade Estácio de Sá e trabalha com consultoria e assessoria na área de nutrição. (Foto: EuAtleta) (Foto: Info Esporte)

Transcrito: – Organize e planeje a sua alimentação

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