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Exercício físico e neuroplasticidade: entenda a relação

O médico endocrinologista Guilherme Renke explica como a capacidade do cérebro de se adaptar pode influenciar na prática de exercícios físico e sugere alimentos importantes para a saúde cognitiva

Você já deve ter ouvido o termo neuroplasticidade. É uma palavra bastante recente no mundo da neurociência que trouxe muito conhecimento sobre a atividade cerebral e a saúde cognitiva. Há relativamente pouco tempo, os especialistas acreditavam que o desenvolvimento dos nossos cérebros estava concluído no final da adolescência, sem capacidade de se modificar após esse período, e que, em termos de neurônios, tudo estava em declínio a partir daí. Mas, graças à ciência, hoje sabemos que isso não é verdade. As pesquisas mais recentes provaram o oposto: nossos cérebros podem realmente crescer e mudar durante a vida adulta. Cada vez que esse órgão processa informações, neurônios são disparados, novos caminhos se formam e o cérebro maleável altera sua forma e estrutura.

Segundo estudo, a prática de exercícios não melhora só coração, pulmões e músculos, melhora também o cérebro — Foto: Internet

O que é neuroplasticidade? O conceito refere-se à capacidade do cérebro de se reestruturar ou se reconectar quando reconhece a necessidade de adaptação. Em outras palavras, ele pode continuar se desenvolvendo e mudando ao longo da vida. Atualmente, buscamos compreender quais estímulos podemos oferecer ao nosso cérebro para que ele possa, então, se modificar e se desenvolver, apoiando positivamente a atividade cerebral.

Atividade física e neuroplasticidade

O cérebro humano se adapta às novas demandas, alterando suas propriedades funcionais e estruturais (neuroplasticidade), o que resulta na aprendizagem e aquisição de habilidades. Evidências convergentes de estudos com humanos e animais sugerem que a prática esportiva facilita a neuroplasticidade de certas estruturas cerebrais e, como resultado, as funções cognitivas.

Pesquisas em animais identificaram um aumento da formação de novos neurônios, sinapses e vasos sanguíneos, além da liberação de neurotrofinas (proteínas que atuam na manutenção e sobrevivência de células neuronais), como mecanismos neurais mediando efeitos cognitivos benéficos do exercício.

A atividade física pode desencadear processos facilitadores da neuroplasticidade e, com isso, potencializar a capacidade do indivíduo de responder a novas demandas com adaptações comportamentais. Alguns estudos recentes sugeriram que a combinação de treinamento físico e cognitivo pode resultar em um aprimoramento mútuo de ambas as intervenções. Além disso, novos dados sugerem que, para manter os benefícios neurocognitivos induzidos pela prática esportiva, deve-se manter um aumento no nível de aptidão cardiovascular.

Efeito do exercício aeróbico no cérebro

O processo de envelhecimento cerebral é um fenômeno comum relacionado à idade. Exames de imagem cerebral mostram alterações da substância branca, formada principalmente por uma porção de prolongamentos de neurônios. A deterioração dessa substância está associada ao prejuízo cognitivo no envelhecimento saudável e à doença de Alzheimer

A ciência busca compreender como é possível amenizar os declínios relacionados à idade de forma mais proativa. Ou seja, o que devemos fazer ao longo da vida para diminuir as consequências do envelhecimento cerebral.

Um recente estudo, publicado em 2021, avaliou a neuroplasticidade da substância branca no cérebro adulto por meio de exames de imagem e verificou que houve efeitos benéficos no grupo que realizou caminhadas aeróbicas durante 6 meses. Sugeriu-se que a substância branca, região vulnerável ao envelhecimento, no cérebro adulto retém a plasticidade induzida pelo exercício aeróbio em curto prazo (6 meses). E, por isso, é um aliado na saúde cognitiva.

Alimentação e saúde cognitiva

Os alimentos que você ingere desempenha um papel na manutenção da saúde do cérebro e pode melhorar tarefas mentais específicas, como memória e concentração.

Peixes gordurosos

Salmão, truta, atum, arenque e sardinha. Todos esses peixes são ricos em ácidos graxos ômega-3, importante bloco de construção do cérebro. DHA, um tipo de ômega-3, é responsável por 40% dos ácidos graxos poliinsaturados do cérebro. Para compreendermos mais facilmente: o cérebro usa ômega-3 para construir células cerebrais e nervosas, e essas gorduras são essenciais para o aprendizado e a memória.

Frutas vermelhas

Mirtilos e outras frutas de cores vermelhas fornecem antocianinas, grupo de compostos vegetais com efeitos anti-inflamatórios e antioxidantes. Os antioxidantes atuam contra o estresse oxidativo e a inflamação, condições que podem contribuir para o envelhecimento do cérebro e doenças neurodegenerativas

Ovos

Os ovos são uma boa fonte de vários nutrientes ligados à saúde do cérebro, incluindo vitaminas B6 e B12, folato e colina (nutriente importante para formação do neurotransmissor acetilcolina, ajuda na memória e função mental)

Chá verde

O chá verde é uma excelente bebida para o cérebro, já que contém cafeína associada à L-teanina, aminoácido capaz de atravessar a barreira hematoencefálica e aumentar a atividade do neurotransmissor GABA. É também rico em polifenóis e antioxidantes, os quais podem proteger o cérebro do declínio mental e reduzir o risco de Alzheimer e Parkinson.

Concluindo

Evidências indicam que o exercício pode melhorar o aprendizado e a memória, bem como atenuar a neurodegeneração, incluindo a doença de Alzheimer (DA). Além de melhorar a neuroplasticidade por meio da alteração da estrutura e função sináptica em várias regiões do cérebro, o exercício também modula sistemas como a angiogênese (formação de novos vasos sanguíneos) e a ativação glial (células da glia auxiliam na nutrição e suporte dos neurônios), que são conhecidos por apoiar a neuroplasticidade.

Não há dúvida de que a saúde do cérebro pode ser melhorada por meio de exercícios físicos. Procure sempre a orientação adequada de profissionais da saúde capacitados em atender suas respectivas necessidades individuais.

Referências

1. Hötting K, Röder B. (2013) Beneficial effects of physical exercise on neuroplasticity and cognition. Neurosci Biobehav Rev. 2013 Nov;37(9 Pt B):2243-57. doi: 10.1016/j.neubiorev.2013.04.005. Epub 2013 Apr 25. PMID: 23623982.

2. Lin, T. W., Tsai, S. F., & Kuo, Y. M. (2018). Physical Exercise Enhances Neuroplasticity and Delays Alzheimer’s Disease. Brain plasticity (Amsterdam, Netherlands), 4(1), 95–110. https://doi.org/10.3233/BPL-180073

Por: Guilherme Renke

Fonte: Guilherme Renke, Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/07/22/exercicio-fisico-e-neuroplasticidade-entenda-a-relacao.ghtml

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