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Doença cardíaca é maior causa de morte de pacientes de câncer de mama

Outubro Rosa: médico Mateus Freitas Teixeira explica estudo e mostra que acompanhamento por especialista em cardio-oncologia é fundamental para o sucesso do tratamento

O câncer de mama é o câncer mais frequente entre as mulheres em todo o mundo e também a principal causa de morte por câncer em mulheres, com estimativa de 2,3 milhões de casos e 685.000 mortes em 2020. Em termos de incidência e mortalidade, ocupa o primeiro lugar na maioria dos países desenvolvidos, com uma aproximação de 24,5% de todos os casos de câncer e 15,5% de todas as mortes por câncer. Assim, diante da chegada do Outubro Rosa, mês de conscientização sobre a doença, vale discutirmos um estudo de revisão publicado em agosto deste ano que faz um paralelo entre doenças cardiovasculares e câncer de mama.

De acordo com um estudo realizado com 63.566 mulheres diagnosticadas com câncer de mama, a doença cardiovascular foi a principal causa de morte em 15,9% das mulheres. À medida que as mulheres envelheceram e com diferentes estágios de câncer de mama, a proporção de mortes por câncer diminuiu, mas a proporção de mortes por doença cardiovascular aumentou. No entanto, a conscientização pública sobre a coexistência dessas duas doenças é mínima, e a doença cardiovascular tornou-se a principal causa de morte em mulheres.

Quimioterapia é fundamental para o tratamento do câncer de mama, mas pode causar danos ao coração; por isso, as pacientes devem ser acompanhadas por um médico especialista em cardio-oncologia — Foto:Reprodução/Internet

A quimioterapia é fundamental para a cura do câncer. Sem ela, seria muito pequena a chance de sobrevivência da grande maioria das mulheres com a doença. Mas a quimioterapia pode, por outro lado, causar problemas cardíacos crônicos ou agudos, como explicaremos mais abaixo. Por isso, toda paciente em tratamento de câncer de mama deve ser acompanhada também do ponto de vista cardiovascular. Há estudos que sugerem que medicações com potencial de proteção para o coração façam parte da estratégia de tratamento para a doença, sendo dadas ao paciente conjugadas com as medicações de tratamento do câncer

Com o aumento do conhecimento sobre o assunto, já temos uma nova subespecialidade na cardiologia que é capaz de acompanhar e tratar os casos, para melhor orientar na prevenção. A cardio-oncologia é uma realidade e todos devemos saber o quanto é importante. O médico que trabalha com cardio-oncologia vai fazer o acompanhamento do coração, pedir exames como o ecocardiograma com strain e receitar medicamentos e atividade física adequados para proteger a saúde cardiovascular.

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Por que o tratamento de câncer afeta o coração?

Uma vez que o tratamento do câncer leva a cardiotoxicidade precoce ou tardia, a apresentação clínica varia de disfunção ventricular esquerda, insuficiência cardíaca, hipertensão, arritmias, isquemia miocárdica, doença valvar e doença tromboembólica até hipertensão pulmonar e pericardite. O tempo que leva para o desenvolvimento da cardiotoxicidade varia significativamente, com certos tratamentos contra o câncer causando efeitos colaterais que aparecem logo após a exposição, enquanto outros causam danos cardíacos que se manifestam anos depois. Além disso, algumas terapias contra o câncer, como as antraciclinas, podem causar remodelamento cardíaco progressivo como efeito tardio da destruição prévia de miócitos, levando à insuficiência cardíaca aguda ou crônica.

Medicações com potencial

Pacientes com câncer de mama são um grupo diversificado com fatores de risco cardiovasculares e relacionados ao tratamento, e o plano de terapia de prevenção primária ideal neste momento pode incluir uma combinação de betabloqueadores e medicamentos neuro-hormonais, isoladamente ou em combinação. Além disso, medicamentos como os inibidores da ECA têm sido os medicamentos mais bem pesquisados para prevenir ou tratar a disfunção do VE; a espironolactona seria um fármaco protetor dada a crescente importância na insuficiência cardíaca.

Exercício é remédio

Junto a isso, uma análise de dois estudos prospectivos, incluindo 2.973 mulheres com câncer de mama não metastático, encontrou uma relação inversa gradual entre a intensidade do exercício e eventos cardiovasculares em geral. O benefício foi observado naqueles que se exercitaram por mais de 300 minutos por semana, o que é semelhante às diretrizes internacionais de exercícios para pacientes adultos com câncer. Em pacientes que fizeram mais de 300 minutos semanais de exercícios, houve uma redução de 26% no risco de doenças cardiovasculares e de 29% no risco de insuficiência cardíaca.

O câncer de mama: causas, sintomas, diagnóstico, tratamento

Foto:Reprodução/Internet

– Causas

Sabemos que a presença de estrogênios e andrógenos na corrente sanguínea está ligada a um risco aumentado de câncer de mama. Por causa do aumento da estimulação hormonal, o sexo feminino é uma das principais variáveis ligadas ao aumento do risco de câncer de mama, ao contrário dos homens, que têm baixos níveis de estrogênio. O risco de câncer de mama cresce com o aumento da idade, sendo de 1,5% aos 40 anos, 3% aos 50 anos e mais de 4% aos 70 anos.

Várias alterações genéticas estão fortemente associadas a um risco elevado de câncer de mama, das quais o BRCA1 (cromossomo 17) e o BRCA2 (cromossomo 13) são os dois genes importantes. De acordo com o estudo realizado em 2,3 milhões de mulheres, o risco de desenvolvimento de câncer de mama é diminuído em mulheres com período de gestação de 34 semanas ou mais quando comparado a mulheres com período de gestação de 33 semanas ou menos. Estudos mostraram ainda que mulheres que usam terapia de reposição hormonal (TRH) têm risco aumentado de câncer de mama e, em comparação com as que nunca usaram, tanto a terapia isolada de estrogênio quanto a terapia combinada de estrogênio e progesterona estão ligadas a um risco elevado de câncer.

– Sintomas

A apresentação clínica varia de acordo com o curso da doença; durante os estágios iniciais da doença, os sintomas podem ser um nódulo duro e indolor e secreção mamilar; à medida que a doença progride, pode ser caracterizada por envolvimento linfonodal.

– Diagnóstico

O diagnóstico de câncer de mama pode ser feito pela história da paciente, exame de mama e seguido por modalidades diagnósticas como ultrassonografia, mamografia, medicina nuclear, ressonância magnética, tomografia computadorizada por emissão de fóton único (SPECT), tomografia por emissão de pósitrons (PET), marcadores tumorais como Ca 15 -3, Ca 27,29, imuno-histoquímica (IHQ), punção aspirativa por agulha fina (PAAF), biópsia central e biópsia excisional.

– Tratamento

O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, a depender do estágio do câncer. Cirurgia (lumpectomia, mastectomia, cirurgia reconstrutiva), radioterapia (braquiterapia), terapia hormonal (terapia antiestrogênica, inibidores da aromatase) e quimioterápicos são os tratamentos mais comuns. O acompanhamento por um médico cardiologista especializado em pacientes com câncer é também fundamental para o tratamento, como vimos acima.

Por: Mateus Freitas Teixeira – Rio de Janeiro

Fonte: Mateus Freitas Teixeira, Cardiologista do Vasco da Gama, é diretor da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do Rio de Janeiro e coordenador médico da Clínica Fit Center

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2022/10/13/doenca-cardiaca-e-a-maior-causa-de-morte-no-cancer-de-mama.ghtml

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