NotíciasSaúde em Foco

DERMATITE ATÓPICA PEDE HIDRATAÇÃO

Até 20% das crianças e 3% dos adultos sofrem com essa condição, que tem origem na alergia e na fragilidade da pele

Hidratar sempre a pele. Essa é a ordem para quem sofre de dermatite atópica, uma doença crônica e não contagiosa que tem como características o ressecamento e a inflamação da pele, com lesões avermelhadas que coçam muito, também chamadas genericamente de eczema. Até 20% das crianças e 3% dos adultos sofrem com o problema, que pode surgir no primeiro ano de vida e diminuir de intensidade com o passar dos anos. Há períodos de crise e de remissão, e a intensidade varia: para alguns pacientes, a inflamação é tão severa que prejudica o sono e a qualidade de vida.

Tipo mais comum de dermatite (inflamação da pele), a condição faz parte, junto com a rinite alérgica e a asma, da chamada “tríade atópica”. Em cada caso, a alergia afeta uma parte do corpo: pele, nariz ou pulmões, respectivamente. A conjuntivite alérgica também pode se manifestar com frequência nesses pacientes. O termo “atopia” (que significa diferente, ou pouco comum) foi adotado quando os médicos perceberam que havia uma origem genética comum para essas doen-ças, marcadas por elevações no sangue de um anticorpo conhecido como IgE. Estudos indicam que as alergias têm se tornado mais frequentes, principalmente em centros urbanos, por razões que ainda são desconhecidas.

Com frequência, tais doenças aparecem em fases consecutivas: a dermatite atópica é a primeira manifestação, por volta dos três meses. Mais tarde, por volta dos 5 ou 7 anos, vêm a rinite alérgica e, na adolescência, a asma. “Cerca de 50% dos portadores de dermatite atópica terão asma em algum momento”, fala a alergista Ariana Yang, chefe do Ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP). É o que se chama de “marcha atópica”.

Pele sensível

Na pele, o problema ocorre de dentro para fora e de fora para dentro: “Além de alterações na resposta imunológica, os portadores têm a pele mais frágil e porosa, vulnerável aos agentes externos”, diz Ariana. Daí ser essencial a hidratação. Primeiro, a cútis fica áspera; depois, aparecem pequenas manchas, crostas ou bolhas que provocam coceira forte, podendo causar sangramento e infecções, que demandam o uso de antibiótico. Em bebês, as lesões comuns são na testa, nas bochechas ou no couro cabeludo. Nas crianças, as áreas mais afetadas são o cotovelo e a parte de trás do joelho. Pescoço, mãos, pulsos, coxas e nádegas também podem ser foco do eczema.

O gatilho para a alergia é individual. Pólen, mofo, ácaros, pelo de animais, fragrâncias, componentes de produtos de higiene e limpeza, materiais ásperos, lã ou tecido sintético são vilões comuns, bem como baixa umidade do ar, frio, calor ou transpiração. Exames de sangue e testes de alergia ajudam no diagnóstico, mas a análise dos sintomas e do histórico do paciente são as principais ferramentas para se confirmar o quadro. O estresse emocional colabora para as crises. Além disso, as lesões podem infeccionar por causa da coceira e outras infecções na pele deflagrem a dermatite. Quanto mais a pessoa se coça, maior a inflamação e a vulnerabilidade aos agentes externos, gerando um ciclo vicioso.

Cuidados constantes

Não existe cura, mas controle da condição. “O tratamento primordial é a restauração da pele como barreira biológica”, enfatiza o dermatologista Caio Lamunier, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), chamando a atenção para a hidratação. Prefira loções indicadas por um médico, pois certos cremes contém agentes químicos que agravam a alergia. Tomar bastante água, usar o umidificador nos dias secos e evitar banhos quentes e demorados evitam o ressecamento.

Limpar as lesões previne infecções, mas é preciso usar sabonetes líquidos adequados, ou loções sem sabão. A exposição ao sol costuma ajudar os atópicos, mas deve ser feita com protetor solar. Quem reage mal à lã e aos tecidos sintéticos deve dar preferência ao algodão e se vestir em camadas durante o frio, para evitar a transpiração. Alérgicos à poeira ou ao pólen também devem evitar a exposição a esses agentes, na medida do possível.

Novidades terapêuticas

O tratamento depende da gravidade das lesões. Quando a manifestação é leve e pontual, a hidratação intensa e o uso de pomadas no local afetado resolvem o problema em alguns dias. O uso tópico de medicamentos imunomoduladores (como pimecrolimo e tacrolimo) é considerado mais seguro e eficaz do que os cremes com cortisona, que funcionam bem, mas têm efeitos colaterais a longo prazo, como o estriamento da pele.

Anti-histamínicos podem ser indicados para diminuir a coceira à noite. O uso de corticosteroides orais e de antibióticos pode ser necessário em alguns casos. Ariana diz que 10 a 20% dos casos são moderados ou graves, e, para eles, só o uso de cremes, não resolve. “Aí entram as terapias sistêmicas com medicamentos imunossupressores, como a ciclosporina”. Elas não são específicas para a dermatite, mas mantêm a inflamação sob controle.

Para casos severos, uma opção promissora é o primeiro agente biológico (produzido a partir de células vivas) feito para a doença, o dupilumabe*, já aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O produto é injetável e seria administrado a cada 14 dias, com a vantagem de poucos eventos adversos, segundo os estudos clínicos.

Futuro promissor

As informações do fabricante (Sanofi) são que a ausência ou melhora das lesões ocorre em 16 semanas. Suely Goldflus, gerente médica da área de imunologia da empresa, comemora: “A melhora na atividade da doença foi rápida, já ocorrendo em duas semanas de tratamento”. Outra novidade é o lançamento de uma pomada, o crisaborole, que inibe uma enzima chamada de fosfodiesterase-4 (PDE-4), predominante nas células do sistema imunológico. O produto já foi aprovado pelo Food and Drug Administration (FDA), para pacientes com 2 anos ou mais.

Por: Redação

Foto:  Shutterstock

Fonte: Ariana Yang,alergista chefe do Ambulatório de Dermatite Atópica do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).

Caio Lamunier,dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD),

Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Transcrito: https://vivasaude.digisa.com.br/clinica-geral/dermatite-atopica-pede-hidratacao/7296/

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: