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Como manter a saúde mental em tempos de isolamento social

Psiquiatra e psicólogo dão oito dicas para evitar a depressão e a ansiedade durante o confinamento por causa da pandemia de coronavírus

O isolamento social decorrente da pandemia de coronavírus afetou drasticamente a rotina de milhões de pessoas. Muitos nunca precisaram enfrentar o confinamento em casa, e com essa mudança repentina dos hábitos diários, não é raro que muita gente tenha apresentado algum desequilíbrio emocional. A atmosfera de incerteza e insegurança faz com que muitas pessoas apresentem sintomas de ansiedade, e o distanciamento social contribui para o agravamento de quadros depressivos. O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, explica que o período de quarentena interfere na saúde mental da população de três maneiras.

– Pessoas que nunca tiveram quadros psiquiátricos podem vir a ter; pessoas que já tiveram quadros psiquiátricos e que estavam controlados podem apresentar recaídas; e pacientes que estão em tratamento psiquiátrico podem apresentar alterações e perdas na evolução positiva que tiveram com o tratamento. Uma pessoa que nunca teve transtorno de ansiedade, por exemplo, pode ter como gatilho as notícias que recebe com frequência sobre o Covid-19. A preocupação constante, as alterações no sono e apetite para mais ou para menos, a sensação de perigo iminente, são alguns sintomas nos quais devemos prestar atenção – esclarece o psiquiatra.

Para ajudar a lidar melhor com essa mudança repentina no dia-a-dia, reunimos algumas dicas de especialistas para preservar a saúde mental durante o período de isolamento social.

1. Estabeleça uma rotina

A quarentena obrigou muitas empresas a adotarem o trabalho remoto, e muitos profissionais já alegam estar trabalhando muito mais horas por dia durante este período. Já alguns setores suspenderam suas operações e dispensaram seus funcionários para que eles fiquem em casa. Independentemente de qual for o seu caso, o ideal é manter uma rotina de horários. Busque acordar no mesmo horário, realizar todas as refeições de costume e se desligar do trabalho após o fim do expediente.

2. Exercite-se

É consenso entre os especialistas que a prática de atividades físicas auxilia nos tratamentos de ansiedade e depressão. Além disso, os exercícios são importantes para a manutenção da nossa imunidade, como explica o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva.

– A saúde mental tem ligação direta com a nossa imunidade. Doenças como depressão e ansiedade podem afetar o nosso sistema imunológico e diminuem a defesa natural que temos em nosso organismo para outras patologias. Com a diminuição da imunidade, podemos ficar mais suscetíveis ao desenvolvimento de outras doenças. Por isso, é tão importante cuidarmos da alimentação e da manutenção das atividades físicas mesmo durante a pandemia.- ressalta o presidente da ABP.

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Presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte, Thabata Telles enfatiza que as pessoas têm reagido de maneiras diferentes durante o isolamento em relação à prática de exercícios. Entretanto, para todos os casos é necessário manter um processo de motivação para que ninguém abandone os treinos durante a quarentena.

– A gente tem encontrado pessoas que tinham uma carga alta de exercícios e que agora praticam menos, e por isso têm tido dificuldades de se motivar para fazer exercícios. Mas por outro lado, temos pessoas que eram sedentárias e que começaram a escutar o seu corpo. Elas iniciaram uma rotina de exercícios porque agora estão com tempo e estão vendo a necessidade, já que estão se movimentando menos. Então tem sido bem interessante observar como as pessoas têm lidado com essa questão de exercício no isolamento – comenta a psicóloga.

Entretanto Thabata explica que a cobrança para se manter ativo e produtivo durante este período também pode ser muito prejudicial, já que pode desencadear ansiedade nos indivíduos. Cada pessoa deve escutar seu corpo e respeitar seu tempo, e por isso o autoconhecimento é muito importante.

– Você não deve se movimentar porque viu uma pessoa no Instagram fazendo exercícios, mas sim porque sente a necessidade e vontade de fazer. Avalie qual tipo de exercício que você mais gosta e faça. Pode ser que um dia você esteja mais disposto a fazer alongamento; em outro dia, queira fazer cardio; e, em outro, queira trabalhar a força. Então, é preciso escutar o corpo, fazer a atividade sem cobrança e focar no bem estar – recomenda Thabata.

3. Medite

Uma prática que tem se tornado muito popular é a da meditação. Existem diversos aplicativos para celular, vídeos no Youtube e livros que podem ajudar a entender as técnicas para desenvolver a atenção plena e treinar o seu cérebro para ser mais consciente e focado. Para iniciantes, uma boa alternativa é experimentar a meditação guiada.

4. Dedique tempo para se entreter

É importante estabelecer um momento do dia se fazer o que gosta, relaxar e se desligar um pouco. Colocar a leitura em dia e ver filmes e séries é uma ideia. Dedicar-se a um hobby é outra.

5. Atenção à qualidade e à quantidade de notícias

Muito se fala nas últimas semanas sobre o consumo de informações sobre o Covid-19. Infelizmente, a propagação de fake news sobre o vírus gerou mais ansiedade e transtornos para as pessoas. Por isso, neste momento é muito importante se atentar às notícias que são recebidas de amigos e familiares. Sempre confira a fonte da informação e tome muito cuidado ao repassar conteúdos para os conhecidos.

Além da desinformação, o consumo de notícias pode ser um gatilho de ansiedade para muita gente. Entretanto, não existe uma regra geral para todo mundo e é necessário o autoconhecimento, como explica Thabata Telles.

– Algumas pessoas se sentem melhor ao saber o que está acontecendo, pois elas se sentem mais seguras, mas outras não. A mesma informação pode ser avaliada de uma forma boa e de uma forma ruim, dependendo da pessoa. Então se o indivíduo perceber que está ficando mais nervoso com as notícias, se desligar das informações é uma ótima alternativa. Mas existem pessoas que estão sozinhas, sem contato com ninguém, então ficar informado sobre o que está acontecendo pode ajudá-las a se sentirem mais protegidas. – explica a psicóloga.

Uma dica é ler (ou ver) o noticiário apenas duas vezes por dia, sem ficar checando o celular a todo o momento.

6. Converse com a família e amigos

Mesmo que não seja possível visitar a família e os amigos ou frequentar bares e festas, manter o contato com outras pessoas é fundamental. Procure ligar para os mais próximos, conversar por aplicativos de mensagem ou até mesmo por videochamada. Neste momento, é muito importante conferir se todos estão bem, trocar experiências e oferecer apoio para quem precisa. E, de quebra, receber um pouco de suporte emocional também. Manter contato nos faz sentir menos sozinhos.

7. Alimente-se corretamente

Aproveite o tempo livre para cozinhar mais e comer alimentos mais saudáveis. Durante a pandemia, é imprescindível ingerir alimentos que auxiliam na imunidade e fornecem vitaminas e minerais essenciais. Mas isso não quer dizer que não podemos comer um docinho de vez em quando, como explica Thabata.

– Quando estamos estressados tendemos a consumir alimentos que trazem um certo conforto. Então, não damos atenção aos bons alimentos que podem nos ajudar na concentração e disposição. Isso não quer dizer que nunca podemos consumir esses alimentos de conforto, mas é importante dar atenção também aos alimentos que nos dão mais disposição e energia – ressalta a psicóloga.

8. Durma bem

Dormir a quantidade necessária de horas diárias ajuda a melhorar nossa imunidade, mas infelizmente a rotina atarefada e estressante nem sempre os permite ter um sono de qualidade. Aproveite este momento para dormir bem e descansar o seu corpo. Evite desregular seu horário de sono ou dormir mais do que o necessário. A rotina caseira pode acabar desregulando os horários e nos fazer passar madrugadas ligados na TV ou no celular. Estabeleça horário para deitar, apague as luzes e desligue todos os eletrônicos.

E como fica a saúde mental dos atletas de alto rendimento?

Diferentemente dos praticantes de atividades livres, os atletas enfrentam uma dificuldade maior durante a quarentena, já que a queda da frequência dos treinos tem um grande impacto no seu desempenho esportivo. As modalidades que permitem treinos individuais podem ter um impacto menor do que aquelas que dependem de treinos com oponentes, como no caso dos esportes de combate.

– Eu acompanho atletas de jiu-jitsu e vi um fenômeno interessante em que os atletas transformaram cadeiras e almofadas em adversários para treinar. Mas há atletas de competição que não tem condições de adaptar o ambiente da sua casa para treinar, então isso limita muitos movimentos que ele consegue fazer. Então, mesmo as técnicas que você consegue fazer sem o outro ficam um pouco limitadas, já que é necessário condições mais apropriadas – comenta a psicóloga do esporte.

Por isso, Thabata afirma que os cuidados em saúde mental para os atletas deve ser maior, pois eles dependem do seu rendimento esportivo que pode ser comprometido neste período. Ela afirma que a ABRAPESP está discutindo medidas para oferecer suporte aos esportistas, sendo que este cenário é muito recente e requer estudos para poder atuar da melhor forma.

Após o adiamento das Olimpíadas de Tóquio, o Comitê Olímpico Brasileiro emitiu um manual para os atletas com recomendações de treinos, alimentação e prevenção do coronavírus. Além disso, o guia também possui uma seção voltada para saúde mental. Entre as recomendações estão estabelecer uma nova rotina, buscar apoio médico com a equipe do comitê e manter pensamento positivo. A entidade esportiva afirma estar monitorando casos relacionados à saúde mental dos atletas durante a pandemia e oferece psicólogos com atendimento remoto.

Por: Juliana Baptista, para o Eu Atleta — São Paulo

Fonte: Antônio Geraldo da Silva,psiquiatra presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria

Thabata Telles,Presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/como-manter-a-saude-mental-em-tempos-de-isolamento-social.ghtml

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