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Chá demais faz mal à saúde?

Médica endocrinologista e nutricionista explicam qual a medida segura a ser consumida, os principais riscos e qual a diferença entre chás prontos e misturas com ervas

Os chás são conhecidos por fazerem bem à saúde, ajudarem a relaxar, proporcionarem um descanso mais intenso, confortável e serem excelentes aliados no frio, esquentando o corpo. Além disso, muitos possuem propriedades medicinais. No entanto, beber chá em excesso pode, sim, fazer mal. Apesar de “naturais”, algumas ervas utilizadas na preparação de chás podem prejudicar a saúde se consumidas em grandes quantidades ou misturadas a outras ervas com princípios ativos incompatíveis ente si. Elas podem acabar causando desde insônia e náuseas até problemas no fígado, como aconteceu com a enfermeira Mara Abreu, que morreu na primeira quinta-feira de fevereiro (3), após complicações de um transplante de fígado.

Esse transplante foi necessário devido a uma hepatite fulminante adquirida por Mara, causada pelo consumo de um chá em cápsulas que mistura 50 ervas diferentes e é vendido como chá emagrecedor. Um dia após a morte da paciente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgou nota para alertar que produtos com a marca “50 Ervas Emagrecedor” estão proibidos no país desde 2020. E o caso fez muita gente questionar se misturas de ervas são seguras, e como saber o que deve ou não ser misturado. Para ajudar a responder, a endocrinologista Andressa Heimbecher e a nutricionista Giovanna Rezende reuniram diversas informações sobre o assunto.

Riscos do excesso

Chá de gengibre deve ser evitado por pessoas com pressão arterial alta — Foto: Reprodução/Internet

A nutricionista Giovanna comenta que o risco de misturas de ervas depende de paciente para paciente. Isso porque a pessoa que consume o chá pode já possuir uma patologia.

– Muitos chás emagrecedores que são compostos por mais de dois tipos de ervas e costumam conter pelo menos um tipo de ingrediente que acelera o metabolismo. Por exemplo: os famosos termogênicos, como é o caso do chá de gengibre, devem ser evitados por pessoas com pressão arterial alta – exemplifica.

E não pense que essa restrição é exclusividade de chás mais energéticos. A camomila, por exemplo, que é conhecida por acalmar a mente, quando consumida em grandes quantidades também faz mal à saúde, podendo causar sonolência, náuseas e vômitos. Chás muito digestivos, como é o caso do de capim-limão, também geram azia quando consumidos em excesso. Outro fitoterápico muito conhecido é o boldo, que em grandes quantidades pode causar problemas no fígado.

– O que acontece nesses casos é que o consumo (excessivo) de chá pode acumular radicais livres no órgão e com isso causar estresse oxidativo, o deixando sobrecarregado – comenta Giovanna.

Além de atacar o fígado e os rins, o excesso do chá pode causar aumento da pressão arterial, ansiedade e taquicardia.

A nutricionista Giovanna ainda ressalta que chás são sim opções boas e saudáveis, mas quando ingeridos com cuidado, pois qualquer alimento em excesso pode fazer mal. E ressalva:

– Em questão de emagrecimento, nenhum chá é capaz de emagrecer alguém, ele irá apenas auxiliar no processo. Assim como nenhum alimento de forma isolada é capaz de emagrecer ou engordar.

Quanto de chá tomar por dia?

Uma a duas xícaras por dia costumam ser seguras, no caso de chás feitos com ervas secas ou frescas, sem muitas misturas — Foto: Reprodução/Internet

De acordo com a nutricionista Giovanna Rezende, a maioria dos chás pode ser consumido diariamente, em doses pequenas, como de uma a duas xícaras diárias. Alguns não oferecem perigo se tomados até cinco xícaras, mas isso deve ser avaliado com um nutricionista. Mais que um litro de qualquer chá já não é recomendado para ninguém.

– Isso vai depender do objetivo de cada pessoa. Por exemplo, o chá de gengibre, quando é para fins de emagrecer, pode ser ingerido até um litro ao dia, com orientação nutricional. Agora se o objetivo é melhorar sintomas de gravidez, o recomendado são duas xícaras ao dia – ilustra, lembrando que essa quantidade também é por tempo limitado, a ser acertado pelo profissional de nutrição.

Uma quantidade que vai além de um litro merece atenção, pois pode começar a causar problemas em alguns órgãos. O que engana muitas pessoas é imaginar que por ser natural, o chá não fará mal à saúde, é seguro. Qualquer substância em excesso pode ser prejudicial, mesmo as naturais, e algumas são diretamente contraindicadas para algumas pessoas. Vários chás, como o de carqueja e o de boldo, não devem ser consumidos por grávidas, por exemplo.

Na dúvida, opte por tomar, no máximo, uma xícara de manhã, outra à tarde e uma terceira à noite.

E os chamados chás emagrecedores?

  Foto: Reprodução/Internet

A endocrinologista Andressa explica que a maioria dos chás que têm efeito emagrecedor possui substâncias que causam diarreia, acelerando o trânsito intestinal, e também substâncias diuréticas.

– Pessoas que já possuem alterações renais, pacientes diabéticos que já têm sobrecarga nos rins, se utilizarem um chá que pode causar desidratação, podem acabar piorando o funcionamento do rim – esclarece.

Além disso, Andressa diz que toda essa toxicidade causada ao fígado pode gerar problemas graves. E que o uso de diuréticos e substâncias que geram diarreia faz o paciente perder muito potássio e outros minerais, podendo até morrer, como aconteceu com a enfermeira Mara Abreu.

Andressa explica que em qualquer mistura pronta de chá existe a possibilidade de contaminação com substâncias que não são regulamentadas para perda de peso ou até mesmo substâncias que são utilizadas para esse fim, como a sibutramina, um fármaco utilizado no tratamento da obesidade.

– Além da sibutramina, podem conter também fragmentos de anfetamina e cafeína, então não é somente o efeito das ervas que contém o chá, mas sim substâncias que podem ser adicionadas de forma ilícita, para que esses chás tenham mais resultados na perda de peso – explica a endocrinologista Andressa.

Hoje os produtos naturais têm menos estudos de segurança, farmacovigilância, processos de controle na comercialização que muitas vezes não existem, e com isso, não há todo um preparo de segurança garantindo que essas substâncias sejam seguras e efetivamente eficazes. Os chás em cápsulas, como o de 50 ervas, misturam ervas que nem sempre devem ser consumidas juntas, causando interações medicamentosas prejudiciais à saúde.

– Quando a gente compra uma medicação em farmácia, que foi estudada durante anos, a gente sabe que essa substância é segura – explica, ressaltando a diferença para produtos sem a mesma vigilância.

O ideal é fazer chás de ervas secas ou frescas no método tradicional, sem optar por misturas, especialmente as em cápsulas. Consulte o nutricionista ou o endocrinologista.

Chá pronto de ervas secas ou chá com ervas frescas?

Antes de comprar um chá, você deve receber a orientação de um profissional endocrinologista ou nutricionista que estará te acompanhando, especialmente no caso de chás que oferecem misturas de ervas. O preparo mais indicado é em casa, em infusão na água quente.

Nem sempre coletar plantas é o mais seguro, pois você pode estar pegando uma substância nociva. Um exemplo é o caso dos cogumelos, pois alguns são seguros, enquanto outros não. Mas não são todas as pessoas que sabem a diferença entre cogumelos saudáveis e prejudiciais, por isso, é importante ficar atento. O mesmo pode ocorrer com algumas ervas. Mas se você tem segurança sobre o que está colhendo, especialmente se é numa horta própria, não há problema. Comprar as ervas, como alecrim, manjericão e capim-limão, no mercado também é seguro, assim como sementes, raízes e caules, como gengibre ou canela.

No caso de chás prontos, de ervas secas, compre marcas que sejam fiscalizadas e regulamentadas, tudo sob orientação do medico endocrinologista e nutricionista.

Por: Maria Sarah, para o Eu Atleta — São Paulo

Fonte: Andressa Heimbecher é médica endocrinologista formada pela UFPR, com doutorado em endocrinologia e linha de pesquisa em obesidade.
Giovanna Rezende é nutricionista formada pelo Centro Universitário Faculdades Metropolitanas Unidas e atua em Nutrição Clínica.

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/noticia/2022/03/09/cha-demais-faz-mal-a-saude.ghtml

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