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Casos de pedras nos rins aumentam 30% no verão: veja como evitar

Transpiração excessiva sem uma reposição de líquidos pode explicar esse avanço, e atletas devem redobrar a atenção: entenda causas, sintomas, tratamento e quais bebidas consumir

Quando chega a estação mais quente do ano, os casos de cálculos renais, as famosas e extremamente doloridas pedras nos rins, aumentam cerca de 30%, segundo a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). Esse é um problema causado por um somatório de fatores, que vão da predisposição genética à má hidratação, passando por uma dieta rica em sódio, açúcar e proteína animal. Entretanto, durante o verão, a transpiração excessiva associada a uma reposição hídrica inadequada pode favorecer a formação dessas pedras. É por isso que atletas e pessoas que fazem exercícios físicos regularmente precisam redobrar a atenção com a hidratação no verão. Afinal, essa prática contribui para o aumento da transpiração, demandando um maior aporte de água e até de eletrólitos.

Os cálculos renais são pequenos cristais formados por minerais e sais ácidos que se unem na concentração da urina. Na forma de areia ou de pequenas pedras, causam muita dor e inflamação quando se movimentam pelo trato urinário. Como ninguém quer se afastar dos treinos por conta das fortes dores causadas pelas pedras nos rins, que em alguns casos podem provocar até enjoos, diarreia e vômito e demandar cirurgia, quando não expelidas naturalmente pela urina, conversamos com o urologista Eduardo Leze. Doutor em Fisiopatologia e Ciências Cirúrgica pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), ele explica as principais medidas para evitar esse problema.

A boa hidratação ajuda a prevenir a formação de pequenos cristais minerais nos rins, os cálculos renais — Foto: Istock Getty Images

Causas

– Predisposição genética. Algumas pessoas podem herdar essa facilidade para a formação de cálculos renais do pai ou da mãe;

– Hidratação inadequada;

– Dieta rica em açúcar, sódio e proteína animal, especialmente carne vermelha. Por isso, é preciso evitar alimentos industrializados e ultraprocessados, que contam com muito sódio e açúcar na composição;

– Refrigerantes. Esse é reconhecidamente um poderoso formador de cálculos renais;

– Ingestão de bebidas adoçadas. Chás prontos, por exemplo, podem conter o equivalente a cerca de quatro a cinco sachês de açúcar, que é uma quantidade muito elevada. Esse ingrediente deixa a urina mais saturada, contribuindo para a formação das pedras. Portanto, para além dos refrigerantes, sucos de caixinha e chás prontos, bebidas preparadas em casa, porém carregadas no açúcar, também favorecem o surgimento dos cálculos.

Sintomas

– Dores na região lombar ou até no abdômen, dependendo da localização da pedra. Esse incômodo, que pode ser muito forte e dolorido, aparece quando o cálculo passa impedir o fluxo da urina. Mas algumas pessoas podem experimentar apenas um leve desconforto, que também inspira atenção e demanda que se procure um médico ao notar esse sinal;

– Enjoo, diarreia e vômito também podem ser experimentados por algumas pessoas;

– Em casos mais graves, febre, que indica uma infecção, e perda de função renal.

Tratamento

– Aumento da ingestão de líquidos;

– Medicamentos: uso de analgésicos, diuréticos, anti-inflamatórios e remédios para enjoo, quando necessário;

– Em casos em que a pedra não é naturalmente expelida, cirurgia, normalmente a laser.

Prevenção – Como evitar as pedras nos rins

Frutas cítricas como maracujá contêm citrato, que ajuda a evitar formação de cálculos renais — Foto: Reprodução/internet

Consuma:

– Água. Essa é a melhor opção para prevenir as pedras nos rins e matar a sede;

– Sucos naturais de frutas cítricas. Limão, laranja e maracujá são excelentes opções. Só não adoce demais a bebida para perder o benefício do citrato na prevenção dos cálculos renais. Para quem não tem o paladar muito acostumado com o sabor amargo, vale começar apostando na combinação água com gás, gelo e algumas gotas de limão.

Evite:

– Refrigerantes, sucos de caixinha e chás prontos. A troca da água por essas opções, que prometem hidratar, dar um refresco nos dias mais quentes do verão e matar a sede, pode favorecer a formação das pedras nos rins, na verdade;

– Alimentos industrializados e ultraprocessados, que são ricos em açúcar e sódio, sem contar com aditivos e conservantes. Por isso, além das bebidas prontas, evite ainda salgadinhos, biscoitos e embutidos, por exemplo;

– Excesso de proteína animal, especialmente carne vermelha;

– Chás popularmente chamados de quebra-pedras. Não há comprovação científica de que essas receitas caseiras tenham efeito ou que evitarão a cirurgia, quando o quadro do indivíduo demandar esse procedimento.

O urologista comenta que a transpiração excessiva sem o consumo adequado de líquidos para repor essa perda explica o aumento dos casos de pedras nos rins no verão. Por isso, durante os dias de temperaturas elevadas é preciso reforçar a hidratação. Mas não adianta apostar em bebidas adoçadas e ricas em sódio, como refrigerantes, sucos e chás prontos. O médico recomenda recorrer a opções muito simples: água, sempre; e sucos naturais de frutas cítricas, que ajudam a prevenir a formação dos cálculos renais.

– Beba água, mas consuma também frutas cítricas. Elas contêm citrato, que ajuda na proteção contra os cálculos renais. Maracujá tem uma concentração de citrato muito grande. Limão e laranja também são ótimas opções. Em vez do refrigerante, tome um suco dessas frutas – sugere Leze, alertando, no entanto, que não se deve abusar no açúcar para não correr o risco de perder o benefício da fruta cítrica. – O açúcar em excesso deixa a urina mais saturada, o que aumenta a chance de formar essas pedras, pois os cristais se agregam mais facilmente. Refrigerante, de uma forma geral, é um poderoso formador de cálculo, mas qualquer bebida adoçada tem esse efeito. Atenção também ao adoçante, que também aumenta a saturação da urina.

No que diz respeito à medida ideal de água por pessoa, há duas recomendações clássicas:

1. Dois a três litros diários, que é um parâmetro consolidado;

2. Ou calcular conforme o peso do indivíduo, sendo 35 a 40 ml de água por quilo de peso corporal diariamente.

Mas é preciso levar em conta o estilo de vida de cada um. Afinal, atletas e pessoas que transpiram muito podem demandar um aporte maior de líquidos. Diante de tantas recomendações, o urologista tem uma dica simples para saber se a reposição hídrica está adequada ou aquém do necessário.

– A melhor referência é observar a cor da urina. Se está amarelo claro, quase transparente, perfeito. Mas se está mais escura, é preciso caprichar na hidratação – sugere o médico.

Eduardo Leze comenta que, embora alguns indivíduos apresentem uma facilidade para formação de cálculos renais herdada dos pais, isso não significa que desenvolverão esse quadro necessariamente. Quando fazem uma reposição hídrica adequada e evitam alimentos ricos em sódio e açúcar, como embutidos e as bebidas industrializadas, além do excesso de carne vermelha, podem driblar essa probabilidade. Já pessoas que abusam dessas opções e bebem pouca água, quando não exageram nos refrigerantes, sucos e chás prontos, mesmo que não tenham uma predisposição para as pedras nos rins, podem experimentar esse problema. Por isso, os cuidados com a dieta são essenciais para qualquer indivíduo que queira evitar esse mal.

– A formação dessas pedras é resultado de um somatório de fatores. A pessoa que tem predisposição mas toma os devidos cuidados terá esse risco minimizado, enquanto que alguém com predisposição mínima tem uma baixa ingestão de água e abusa das bebidas com açúcar, do sódio e de carnes, também aumenta as chances de ter cálculos renais. Ainda que não tenha o fator genético aumentando a predisposição para formar pedra, se bebe um ou dois litros de refrigerante, por exemplo, a pessoa aumenta esse risco – exemplifica o urologista.

Calor, sol, exercícios e hidratação

Ao apostar nos sucos de frutas cítricas, evite adoçar demais, para não perder os benefícios do citrato na prevenção dos cálculos — Foto: Reprodução/Internet

Para quem treina ao ar livre ou na academia, há de se esperar que a transpiração aumente ao praticar as atividades no verão. Urologista e doutor em Fisiopatologia e Ciências Cirúrgicas, Leze alerta que os cuidados com a hidratação, nesse caso, devem ser redobrados, dado que transpiração excessiva aumenta a chance de formação de cálculos.

– Durante o exercício físico, o fluxo de sangue nos rins diminui 70%, porque é direcionado para outras partes do corpo. Essa é uma defesa natural para reduzir a perda de líquidos pela urina, porque a pessoa já está perdendo pela transpiração. Esse mecanismo faz com que se urine menos durante a atividade. Se houvesse essa perda pela urina e pela transpiração, a desidratação seria certa. O exercício também produz hormônio antidiurético. Mas é preciso se hidratar para repor essa perda, inclusive para não saturar a urina e aumentar mais as chances de formar pedra – discorre Leze.

Nesses casos, é preciso seguir as mesmas recomendações gerais. Os cuidados começam pela observação da cor da urina, para saber se está tudo certo com a ingestão de líquidos; e consumo água e sucos naturais de frutas cítricas não adoçados ou com pouco açúcar, bem como evitar bebidas prontas e excesso de sódio e carnes na dieta.

De uma forma geral, segundo o médico, basta beber líquidos antes e após a atividade. Porém, quem é adepto de modalidades como corridas, maratonas e ciclismo deve se hidratar durante treinos e provas, com o cuidado para não exagerar na dose e causar um quadro de hiponatremia, quando há um aumento da concentração de sódio no sangue em relação à quantidade de água no organismo. Além disso, como atletas e praticantes de exercícios mais extenuantes podem experimentar uma perda maior potássio e magnésio, por exemplo, Eduardo Leze lembra que devem fazer a reposição de eletrólitos.

– Procure estar hidratado antes do exercício, com a preocupação de não beber muito líquido imediatamente antes para não se sentir cheio e atrapalhar o esporte. E faça uma reposição de líquidos depois. Se a atividade for muito extenuante, é preciso uma reposição eletrolítica. A água de coco é uma ótima opção. Ela repõe eletrólitos e energia e ainda é natural. Particularmente, procuro sugerir o que a natureza formulou muito bem ao longo dos anos. Sem contar que se a pessoa fez um exercício na praia pode tomar uma água de coco para se hidratar e aproveitar o visual – conclui o urologista.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Eduardo Leze é médico urologista formado pela Souza Marques, com residência em cirurgia geral. É doutor em Fisiopatologia e Ciências Cirúrgicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), cujo trabalho foi premiado pela Academia Nacional de Medicina.

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/casos-de-pedras-nos-rins-aumentam-30percent-no-verao-como-evitar.ghtml

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