NotíciasSaúde em Foco

Alumínio e outros metais pesados afetam metabolismo ósseo

Médico endocrinologista Guilherme Renke explica de que forma a exposição a essas substância pode ter impacto na saúde das pessoas e no desempenho físico de atletas

Devemos nos preocupar com a exposição a metais pesados, como o alumínio? Segundo a comunidade científica, infelizmente sim. Como o alumínio e outros metais pesados permeiam nosso meio ambiente, a comunidade científica há muitos anos tem se preocupado com sua segurança em humanos. A contaminação com metais é um problema sério em todo o mundo devido à sua toxicidade e não biodegradabilidade e à sua capacidade de se acumular no meio ambiente e em organismos vivos. Hoje vamos tratar principalmente no alumínio e do seu impacto na saúde e qualidade de vida das pessoas. Um exemplo: o alumínio afeta o metabolismo ósseo, o que o torna prejudicial inclusive para o desempenho do atleta e sua longevidade no esporte, como veremos a seguir.

Um metal pesado é um metal denso que, geralmente, é tóxico em baixas concentrações. Embora a expressão “metal pesado” seja comum, não existe uma definição padrão que designe metais como pesados. Os mais frequentemente detectados no meio ambiente são cádmio, zinco, cobre, arsênio, níquel, mercúrio, cromo, chumbo e alumínio.

Estuda-se se desodorantes antitranspirantes que contêm alumínio em sua fórmula possam ser fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de mama — Foto: Internet

Alumínio

 e O alumínio é um metal pesado amplamente utilizado na fabricação de latas de bebidas, antiácidos, tintas, cosméticos O alumínio é um metal pesado amplamente utilizado na fabricação de latas de bebidas, antiácidos, tintas, cosméticosassim por diante. Sabe-se que o alumínio afeta os sistemas hematopoiético (responsável pela formação de células sanguíneas), nervoso e o ósseo, podendo causar anemia, aluminose (contaminação de alumínio nos pulmões), osteoporose, entre outros efeitos adversos à saúde.

A preocupação mais comum sobre o alumínio em antitranspirantes e outros produtos para a pele é que ele pode estar relacionado ao câncer de mama. Observações experimentais indicam que a aplicação a longo prazo de antitranspirantes com alumínio pode se correlacionar com o desenvolvimento e progressão do câncer de mama. Propõe-se que essa ação seja atribuída, entre outras, às possíveis atividades semelhantes ao estrogênio do alumínio. Mas não há evidências científicas que mostrem e comprovem que o alumínio dos desodorantes cause a doença e mais pesquisas são necessárias.

No entanto, na medicina preventiva, podemos optar por diminuir as exposições aos metais pesados, incluindo algumas fontes de alumínio, como o desodorante.

Metais pesados e metabolismo ósseo

Uma vez absorvido pelo corpo, o alumínio pode ser incorporado à matriz óssea e é absorvido pelos osteoclastos, os quais são células do tecido ósseo envolvidas na remodelação óssea. Ele se acumula em espaços que o colágeno deveria ocupar no processo de mineralização óssea, interferindo no acúmulo de cálcio no osso. Este processo pode levar à osteomalácia, uma condição em que o osso se enfraquece com a desmineralização, ou seja, a perda de minerais, e com a depleção de cálcio do osso.

Alguns estudos mostram que o alumínio também é capaz de inibir a conversão da vitamina D no fígado, podendo levar à deficiência de vitamina D ativa no organismo. Esta é fundamental para a absorção de cálcio no intestino; sua deficiência pode, então, comprometer a saúde óssea pela falta de cálcio.

Dessa forma, o alumínio afetaria o metabolismo ósseo, sendo prejudicial para qualquer pessoa. Inclusive atletas, que sofreriam com mais lesões, pior desempenho e menor longevidade na sua modalidade.

Neurotoxicidade do alumínio

Compostos de alumínio foram observados em várias regiões do cérebro em pesquisas científicas e seu acúmulo foi associado a distúrbios neurodegenerativos. Os efeitos neurotóxicos do alumínio são atribuídos à geração de espécies reativas de oxigênio e à ativação de reações inflamatórias.

Há relatos clínicos de algumas pessoas com doença renal crônica e altos níveis de alumínio decorrentes do processo de diálise, quando sais de alumínio eram adicionados no dialisado, que apresentaram desorientação, problemas de memória e, em estágios avançados, demência. Esses efeitos neurotóxicos foram decorrentes de altos níveis de alumínio no tecido cerebral. Vale ressaltar que a maioria desses pacientes tinha alto teor do metal através de medicamentos, não pelo uso de protetores solares ou antitranspirantes, por exemplo.

Embora pesquisas científicas tenham demonstrado que grupos com problemas de memória também têm níveis mais elevados de alumínio em seu sistema, as fontes que afetam esses níveis têm maior probabilidade de estarem relacionadas à medicação e à dieta alimentar.

O que podemos concluir hoje?

Uma exposição maior e prolongada ao alumínio e outros metais pesados, como exposição ocupacional em ambientes de trabalho, pode levar a diversas consequências no organismo, comprometendo, por exemplo, a saúde óssea e cerebral.

A absorção dérmica através de antitranspirantes também não deve ser esquecida, pois pesquisas médicas mostram que o alumínio dos desodorantes pode se acumular em seu corpo. No entanto, não há evidências científicas que liguem diretamente o alumínio a cânceres e outras condições de saúde através de uma exposição relativamente pequena.

O que temos hoje na ciência são possibilidades, as quais levam alguns especialistas a aconselharem que o uso de antitranspirantes não é uma boa ideia para todos, especialmente para aqueles com doença renal crônica grave.

Mais pesquisas científicas são necessárias para comprovar a relação entre exposição crônica ao alumínio e doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer.

Se pudermos fazer pequenas mudanças para diminuir a exposição, como diminuir o uso de cosméticos com alumínio, pode ser uma forma preventiva das condições maléficas ocasionadas por metais pesados no organismo. Lembrando que hoje não temos evidências suficientes para comprovar essa possível prevenção. Tenha sempre uma orientação profissional adequada para analisar individualmente suas necessidades e escolhas.

Referências:

1. Gorgogietas, V. A., Tsialtas, I., Sotiriou, N., Laschou, V. C., Karra, A. G., Leonidas, D. D., Chrousos, G. P., Protopapa, E., & Psarra, A. G. (2018). Potential interference of aluminum chlorohydrate with estrogen receptor signaling in breast cancer cells. Journal of molecular biochemistry, 7(1), 1–13.

2. KLEIN, Gordon L. Aluminum toxicity to bone: A multisystem effect?. Osteoporosis and sarcopenia, v. 5, n. 1, p. 2-5, 2019.

3. Klotz, K., Weistenhöfer, W., Neff, F., Hartwig, A., van Thriel, C., & Drexler, H. (2017). The Health Effects of Aluminum Exposure. Deutsches Arzteblatt international, 114(39), 653–659.

4. Rodríguez, J., & Mandalunis, P. M. (2018). A Review of Metal Exposure and Its Effects on Bone Health. Journal of toxicology, 2018, 4854152.

5. Stahl, T., Falk, S., Rohrbeck, A., Georgii, S., Herzog, C., Wiegand, A., Hotz, S., Boschek, B., Zorn, H., & Brunn, H. (2017). Migration of aluminum from food contact materials to food-a health risk for consumers? Part I of III: exposure to aluminum, release of aluminum, tolerable weekly intake (TWI), toxicological effects of aluminum, study design, and methods. Environmental sciences Europe, 29(1), 19.

6. Zhang, S., Sun, L., Zhang, J., Liu, S., Han, J., Liu, Y., Adverse Impact of Heavy Metals on Bone Cells and Bone Metabolism Dependently and Independently through Anemia. Adv. Sci. 2020, 7, 2000383.

Por: Guilherme Renke

Fonte; Guilherme Renke, Médico endocrinologista da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia e Médico do Esporte Titular da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte

Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/saude/post/2021/07/15/aluminio-e-outros-metais-pesados-afetam-metabolismo-osseo.ghtml

 

Deixe uma resposta

%d blogueiros gostam disto: