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11 dicas de como escolher o esporte para as crianças na pandemia

Exercícios são fundamentais para o desenvolvimento infantil e ainda ajudam a lidar com os impactos do distanciamento social. Pediatras e profissional de Educação Física dão orientações e explicam benefícios e riscos durante esse período de mais contágio por Covid-19

Quando praticados regularmente na infância, esportes e exercícios físicos impactam direta e positivamente na saúde e no desenvolvimento da criança. Os benefícios vão desde melhora das habilidades motoras a ganhos cognitivos, inclusive decorrentes da interação com outros meninos e meninas, como aumento da autoestima e do bem-estar e aprendizado para lidar com diferentes sentimentos. Com a pandemia de Covid-19, os pequenos também sofreram com a redução na movimentação no dia a dia e a ausência da prática desportiva regular. Os pais reconhecem o impacto sobre os filhos e sabem da importância de sua prática, inclusive para ajudar a meninada a gastar energia e a relaxar. Mas a situação da pandemia também preocupa os responsáveis. Afinal, os casos e óbitos por Covid-19 estão em ascensão pelo Brasil e novas variantes do vírus, em circulação. Dessa maneira, pais e mães se veem diante do dilema: colocar ou não os pequenos para praticar esportes?

Os pediatras Marcio Nehab e Marcelo Riccio Facio e a profissional de Educação Física Paula Toyansk, consultados pelo EU Atleta, argumentam que, dados os prejuízos do sedentarismo para o desenvolvimento infantil e a saúde na vida adulta, é fundamental garantir a regularidade dos exercícios físicos na infância, inclusive durante a pandemia. Até porque a expectativa é que a Covid-19 só seja contida com a vacinação em massa, o que deve demorar. Essa escolha deve ser feita levando sempre em conta o que determinam as autoridades locais, já que as cidades revisam regularmente suas próprias orientações e restrições, inclusive para o funcionamento de academias e escolas de esportes, e as conhecidas medidas para evitar contato com o vírus, como distanciamento social, higiene das mãos e uso de máscara. Como muitos responsáveis podem não se sentir seguros com esse retorno dos filhos à prática desportiva, os médicos e a profissional de Educação Física fazem alertas que ajudarão pais e mães nessa decisão e dão dicas para escolher a modalidade reduzindo os riscos de contágio ao longo da pandemia.

Como escolher o esporte

Classifique esportes conforme o risco. Modalidades individuais ou sem contato oferecem menos chance de contágio do novo coronavírus — Foto: Internet

Com o apoio dos pediatras e da profissional de Educação Física, preparamos algumas dicas para ajudar os pais a escolherem as modalidades para os filhos praticarem durante a pandemia.

1. Se o seu filho apresenta alguma condição de saúde, converse com o seu pediatra sobre um retorno seguro ao esporte. Essa recomendação vale ainda se a criança mora com algum familiar que seja do grupo de risco da Covid-19, como idosos, obesos e diabéticos;

2. Não se esqueça de acompanhar a situação epidemiológica da doença em sua cidade e seguir as orientações das autoridades locais;

3. Considere as modalidades conforme o risco maior ou menor de contágio. Nessa hora, lembre-se das medidas já conhecidas, ou seja, uso de máscara, higiene das mãos e distanciamento social. Se a atividade permite que se mantenha distância entre os participantes, como acontece em esportes individuais ou sem contato, reduzem-se as chances de contágio. Atletismo, por exemplo, oferece menos risco do que modalidades coletivas como futebol e basquete. Até algumas lutas, como caratê e judô, podem ser realizadas sem contato e em um espaço com número reduzido de alunos. Quando a modalidade permite usar máscara, as chances também diminuem. No caso da natação isso não é possível, evidentemente. Mas se as crianças nadam a uma distância de pelo menos um metro uma das outras, os riscos também são reduzidos;

4. Observe o local em que a atividade será realizada para verificar os riscos de contágio. Se o espaço é aberto, menos chance de contato com o SARS-CoV-2. No entanto, quando é fechado, porém bem ventilado, os profissionais usam máscara, há distanciamento social e poucos alunos fazem aula, as chances de contato com o vírus são reduzidas;

5. Atente para a limpeza do ambiente e superfícies com as quais se tem contato. Se o seu filho faz natação, por exemplo, verifique se as bordas da piscina são limpas adequadamente. Esse é um vírus respiratório, mas é importante observar esse aspecto, já que gotículas podem se depositar em superfícies em que a criança bota a mão antes de levá-la ao rosto;

6. Se o seu filho assiste a aulas no modo presencial, considere a possibilidade de a criança praticar o mesmo esporte dos colegas de turma e no mesmo local. Converse com os responsáveis deles. Isso ajudará não apenas a garantir a sua adesão do seu filho à atividade, já que estará com o seu núcleo de amigos, mas também a formar uma espécie de bolha social;

7. Garanta que a criança terá os equipamentos individuais necessários para o esporte, que não podem ser compartilhados nesse momento de pandemia. Quimono de judô, óculos de natação e raquetes de tênis, por exemplo, devem ser de uso exclusivo do seu filho, assim como garrafinhas e toalhas, entre outros itens pessoais;

8. Explique à criança que, no momento, abraços estão proibidos;

9. Reduza o tempo que seu filho permanecerá no local escolhido para a prática desportiva. Se pratica natação, evite as duchas após as aulas. Deixe para fazer isso em casa. O mesmo vale para lanches e confraternizações após a prática no vestiário. O ideal é evitar usar esse espaço, que é pouco ventilado. Lembre-se que esse é o momento de manter o distanciamento social e evitar aglomeração;

10. Leve em conta também o gosto do seu filho. Esse cuidado é essencial para garantir a sua adesão à prática desportiva. Mas aí bate aquela dúvida quando a menina ou o menino querem, por exemplo, jogar futebol e outros esportes coletivos, de contato. Nessas horas, vale conversar com o seu filho e explicar de forma simples o cenário atual. Dependendo da idade, ele será capaz de compreender que os riscos de contágio aumentam em esportes coletivos. Apresente outras modalidades em que o risco tende a ser menor, até descobrir a que agrada mais e que deixará sua família mais protegida;

11. Não se esqueça ainda de que é importante dar exemplo para os seus filhos. Essa dica é essencial até para melhorar a sua adesão às medidas de proteção contra a Covid-19, que devem ser seguidas dentro e fora do ambiente desportivo. A criança tem que usar máscara na rua, no esporte ou na escola, se ela já assiste às aulas em modo presencial. Mas os responsáveis devem fazer o mesmo. Use máscara, mantenha o distanciamento social e cuide da higiene de suas mãos você também.

Benefícios do esporte para as crianças

– Desenvolvimento das habilidades motoras e coordenação;

– Melhora cardiorrespiratória;

– Aumento da capacidade aeróbica;

– Ganho de força e flexibilidade;

– Melhora da composição corporal. Os exercícios físicos e o esporte são importantes aliados na luta contra o sobrepeso e a obesidade infantil;

– Fortalecimento do sistema imunológico. A realização regular de exercícios físicos moderados e planejados também proporciona esse benefício para as crianças;

– Melhora da qualidade do sono;

– Desenvolvimento cognitivo. Na prática desportiva, há um estímulo ao raciocínio, concentração e atenção. Com isso, ajuda a criança até mesmo no aprendizado escolar;

– Autoconhecimento e capacidade de lidar com diferentes sentimentos, experiências e situações. Por meio do esporte, meninos e meninas precisam encarar, por exemplo, perdas e o fato de que alguns colegas podem ter melhor habilidade para a prática. Assim, aprendem a assimilar e a lidar com esses sentimentos, dando uma base para toda a sua vida;

– Aumento da autoestima. Quando a criança aprende algum esporte ou vai bem na modalidade escolhida, há também esse ganho;

– Possibilidade de interação e socialização. Dessa maneira, os pequenos aprendem sobre cooperação e respeito às regras e ao próximo. Isso se reflete positivamente nas relações com a família e em todos os meios que eles frequentam;

Ajuda no enfrentamento de problemas como ansiedade, tristeza e depressão, também manifestados pelas crianças por causa das medidas de distanciamento social.

Por que retornar ao esporte na pandemia? 

Esportes são fundamentais para o desenvolvimento infantil e para evitar prejuízos à saúde no longo prazo — Foto: Internet

Pediatra e especialista em Medicina do Esporte, Marcelo Riccio Facio comenta que antes da pandemia já se observava uma tendência de diminuição da aptidão física de crianças. Esse cenário é resultado da adoção de comportamentos sedentários, que causam prejuízos à condição aeróbica, força e flexibilidade e pode ter desfechos em sua vida adulta, resultando em quadros de doenças crônicas metabólicas, cardiovasculares e ortopédicas.

Para demonstrar, Facio, que é coordenador da pediatria do esporte do Laboratório de Performance Humana, da Casa de Saúde São José, faz referência a um estudo internacional que observa a prática de atividades físicas na infância e na juventude em países como Estados Unidos, Canadá e Brasil, entre outros, e a cada dois anos reporta esses dados: em 2018, as crianças brasileiras apresentavam nota C em indicadores como transporte ativo, participação em esportes organizados e na escola. Conforme analisa o pediatra, como a pandemia impôs uma redução dessas atividades e meninos e meninas adquiriram comportamentos sedentários durante um ano, a tendência é esse quadro seja agravado. Ademais, muitos pais e mães foram mais permissivos com a alimentação, na tentativa de compensar os impactos do distanciamento social.

Mestre em Saúde Coletiva pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Facio lembra que a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda atualmente três horas de atividades físicas diariamente para crianças até cinco anos. Já dessa idade em diante, é preciso dedicar uma hora diária a exercícios moderados a fortes, além de trabalho de força muscular para desenvolvimento de músculos e ossos uma vez por semana. Para o pediatra, esportes e exercícios físicos devem ser reintroduzidos no dia a dia de crianças adotando-se os cuidados necessários na pandemia. Caso contrário, pode haver prejuízos ao seu desenvolvimento e à sua saúde no futuro, além de impactos psicológicos resultantes da não socialização. Contudo, embora faça esse alerta, o pediatra e médico do esporte também argumenta que os pais e as próprias crianças devem se sentir seguros com esse retorno.

– Tem momentos na vida da criança em que ela está mais sensível a desenvolver pontos da aptidão física. Há também o período crítico e se ela não fizer exercícios naquele momento, fica mais difícil de desenvolver isso depois. A preocupação é que a criança perca etapas do seu desenvolvimento motor e o contato com outras crianças. Aprender a perder e a ganhar também faz parte do aprendizado e do desenvolvimento. E tem outro ponto importante. Quando a criança não completa o seu desenvolvimento motor adequadamente, há uma tendência para que seja menos ativa no futuro. Um período de um ano a dois anos em que ela não tem um estímulo adequado é muito tempo perdido em desenvolvimento – discorre Facio, acrescentando que os exercícios também são uma forma de lidar com problemas como ansiedade, tristeza e tédio que se manifestam entre os mais jovens na pandemia. – A criança faz um movimento e libera endorfina também. O esporte é um momento de alegria, para se divertir, relaxar e diminuir a ansiedade.

A profissional de Educação Física Paula Toyansk ressalta que, além da parte física e motora, o esporte contribui para o desenvolvimento cognitivo e social da criança, com impactos positivos para as suas relações interpessoais além dessa prática. Especialista em aprendizagem motora, ela informa que estudos demonstram que a pandemia impacta no comportamento, hábitos alimentares e no sono dos pequenos. Toyansk destaca que trabalho conduzido por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) indica, por exemplo, que as crianças estão mais sedentárias na pandemia. De acordo com a pesquisa, 63,2% daquelas que responderam ao questionário relataram se divertir com jogos eletrônicos, sozinhas ou com amigos, e somente 22,4% afirmaram praticar atividades físicas. Demonstrando preocupação com o excesso de telas, a profissional de Educação Física lembra que a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) faz recomendações sobre o uso de telas, que variam entre uma hora diária para crianças entre dois e cinco anos e duas a três horas para adolescentes de 11 a 18 anos.

– O esporte beneficia todo mundo, mas transcende as possibilidades que pode oferecer à criança. Ela desenvolve suas habilidades motoras e fortalece o corpo de forma plena. Mas também há benefícios cognitivos, sociais e afetivos. A pandemia tem consequências a curto prazo nas crianças, mas tememos que isso tenha consequência a médio e longo prazos. As atividades físicas precisam começar agora – considera Toyansk, que é gerente nacional de Acqua e Kids da rede de academias Bodytech.

Consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), o pediatra e infectologista Marcio Nehab ressalta a importância do esporte e dos exercícios físicos regulares para a melhora da capacidade aeróbica e o desenvolvimento motor fino e grosso, relacionados, respectivamente, ao movimento de preensão e pinça com as mãos e às atividades dos grandes músculos e funções como sustentar a cabeça, sentar e andar. E ainda destaca o benefício social do esporte, muito prejudicado nesse cenário pandêmico. O pediatra e infectologista do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) é enfático: crianças precisam de esportes. Considerando o quadro de sedentarismo e sobrepeso e obesidade infantil anterior à Covid-19, Nehab acrescenta que devem ainda reduzir o tempo em frente a telas e adotar mudanças na alimentação, cuja qualidade está aquém do que a OMS e a SBP recomendam para uma boa saúde.

Para aqueles pais que estão se perguntando qual é o esporte mais indicado nesse momento, Nehab explica que não há uma modalidade mais recomendada. Primeiramente, pais e mães devem considerar a situação epidemiológica da Covid-19 em sua localidade, como número de casos da doença e situação das unidades de terapia intensiva (UTI), e o que determinam as autoridades locais para orientar esse retorno dos filhos ao esporte. Mas, em se tratando das opções de atividades desportivas, o pediatra e infectologista sugere classificá-las em uma gradação de risco de contágio.

– Esportes individuais e que não têm nenhum contato oferecem baixo risco. Se há poucos ou dois jogadores, permite o uso de máscara ou é ao ar livre, também há menos risco. Já esportes coletivos oferecem um risco maior – constata o pediatra e infectologista, lembrando a pais e mães que a presença de sintomas exclui crianças e adolescentes da atividade física e esportiva. – Pode ser só um resfriado ou um nariz escorrendo. A criança só pode fazer a atividade na ausência de todo e qualquer sintoma.

Esportes, sim. E brincadeiras também

O pediatra e infectologista observa que é importante que a família tenha momentos de brincadeiras e atividades mais lúdicas. Afinal, garantirão mais movimento durante o dia e ainda estreitam laços entre os familiares. No entanto, Nehab afirma que o esporte é um pilar da saúde, incluindo de crianças e adolescentes, e é preciso realizar esse trabalho direcionado.

– Leve a criança ao parque, à praia ou a um ambiente ao ar livre, se a situação epidemiológica permitir. Corra, pule amarelinha e dance. Pode ser qualquer atividade. Elas são interessantes, mas não suficientes para o desenvolvimento infantil. É importante fazer esportes, sim. Teoricamente, a criança tem que fazer pelo menos uma hora de atividade com gasto moderado de energia todos os dias – discorre Nehab, emendando que, atualmente, é preciso considerar se há maior ou menor chance de pegar Covid-19 durante o esporte, mas é fundamental que, ao longo de sua vida, a criança tenha contato com a maior quantidade de modalidades possível.

Facio corrobora que o contato com uma variedade de esportes permite trabalhar valências físicas diferentes, impactando, por exemplo, na locomoção, manuseio e controle de objetos, estabilidade e equilíbrio. Dependendo da idade, inclusive, a criança deve ter contato com mais de uma modalidade. Segundo o médico do esporte, essa estratégia de praticar um maior número possível de esportes é adotada até no desenvolvimento de jovens atletas. Os ganhos motores em modalidades diferentes tornam a criança e o adolescente melhores naquela de sua preferência.

– A criança precisa ter esse aprendizado com um profissional capacitado para orientar e avaliar o desenvolvimento motor, e em um local que cumpra as determinações [contra a Covid-19] – completa o pediatra do esporte.

Paula Toyansk acrescenta que o profissional de Educação Física que conduz o esporte pode observar a criança e realizar um trabalho direcionado. Mas isso não significa as atividades em casa não sejam positivas. Pelo contrário: tratam-se de medidas fundamentais para garantir mais movimento e evitar o sedentarismo no dia a dia.

– Mesmo as atividades propostas pelos pais em casa são melhores do que a inatividade. É melhor do que ficar parado, comendo e vendo uma tela. Mas o profissional [de Educação Física] consegue entender tônus da criança, seu equilíbrio e capacidade cognitiva para fazer um trabalho progressivo com ela – completa Toyansk.

Por: Gabriela Bittencourt, para o EU Atleta — Rio de Janeiro

Fonte: Marcio Nehab, pediatra

Marcelo Riccio Facio, pediatra

Paula Toyansk, profissional de Educação Física

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/noticia/11-dicas-de-como-escolher-o-esporte-para-as-criancas-na-pandemia.ghtml

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