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Exercícios ajudam a regular o hormônio da fome no organismo

Estudo conclui que manter níveis adequados da leptina é fator importante no sucesso da perda de peso por meio da atividade física. Médicos endocrinologista e do esporte explicam

Um estudo publicado no fim do ano passado na revista Medicine & Science in Sports & Exercise avaliou como homens e mulheres com sobrepeso compensam a energia gasta durante a prática de exercício aeróbio por 12 semanas, elucidando os mecanismos potenciais e o papel que a dose do exercício desempenha na resposta compensatória do organismo. Como resultado, a leptina — um dos principais hormônios responsáveis pelo controle da fome — mostrou ser um fator importante no sucesso da perda de peso por meio do exercício. Mas, afinal, para que serve esse hormônio? De acordo com o médico endocrinologista Ricardo Oliveira, a leptina é produzida principalmente pelas células gordurosas (adipócitos) e desempenha a função de regular a ingestão alimentar e o gasto energético, daí a origem de seu nome: em grego, leptos significa magro.

– Descrita originalmente em 1994 pela Universidade Rockefeller em Nova Iorque, a leptina atua no sistema nervoso central (hipotálamo), em mamíferos, promovendo redução da ingestão alimentar e aumento do gasto energético. Tanto em animais quanto em humanos, a deficiência genética de leptina costuma levar a quadros de hiperfagia (aumento anormal do apetite ou ingestão excessiva de alimentos) e, por conseguinte, obesidade severa. Felizmente, tais casos, de difícil tratamento, são raros – aponta o médico.

A leptina é um hormônio produzido pelas células de gordura e está relacionada com o controle do apetite — Foto: Foto:  Internet

O estudo

Na pesquisa, as alterações advindas das 3 mil calorias gastas por semana por um grupo de sedentários que praticavam atividade física seis vezes na semana sugeriram que os exercícios aumentaram a sensibilidade dos praticantes ao hormônio leptina. Mas, afinal, de que forma esse aumento da sensibilidade ao hormônio ocorre? De acordo com o estudo conduzido por um grupo de pesquisadores da Universidade de Kentucky, o grupo que realizou mais exercícios (300 minutos por semana) perdeu mais peso do que o grupo que se exercitou menos (90 minutos por semana), como era de se esperar.

– O achado inesperado foi que o grupo que se exercitou mais não “compensou” com mais ingestão calórica do que o grupo que se exercitou menos. Ambos os grupos apresentaram um aumento compensatório de ingestão calórica da ordem de 1000 kcal/semana. Um outro achado interessante foi que a redução dos níveis de leptina esteve associada a uma menor compensação calórica. Como explicar isso se a leptina é um hormônio relacionado à saciedade? De acordo com os autores, uma maior sensibilidade à ação da leptina poderia ser a resposta, conforme já descrito em 2019 na revista Cell Metabolism por um grupo de pesquisadores da Universidade do Texas – destaca Ricardo Oliveira.

Em relação ao uso de exercícios como estratégia para perda de peso, o médico do esporte Filipe Cortez destaca que é sabido que essa medida, isoladamente, leva a resultados discretos. Intervenções alimentares, por exemplo, tendem a ser mais efetivas que exercício para perda de peso, quando consideramos essas medidas utilizadas de forma isolada. Entre as diversas explicações buscadas par essa fato, tem-se colocado os mecanismos compensatórios como uma possível causa.

– Teoricamente, pessoas submetidas à atividade física tenderiam a compensar o gasto calórico do exercício aumentando sua ingestão de calorias, o que reduziria o efeito dessa intervenção na perda de peso. E essa compensação seria maior em pessoas que praticam exercício mais vezes por semana. Porém, nesse estudo, isso não foi observado. O grupo que praticou atividade física seis vezes por semana teve maior perda de peso que o grupo que praticou duas vezes por semana, provavelmente por causa do maior gasto energético proporcionado por mais atividade física praticada. O efeito compensatório observado nos dois grupo foi similar, ou seja, praticar mais atividade física não levou a uma atitude compensatória mais pronunciada – explica Filipe Cortez.

Mais exercício, mais fome?

A prática de exercício físico está relacionada à compensação energética/alimentar — Foto: Internet

Segundo Ricardo Oliveira, existem estudos que mostram que o exercício físico, por si só, apesar de promover um gasto energético relacionado à atividade física em si, promove alterações neuro-hormonais que estimulam o apetite, como redução dos níveis de leptina e outros hormônios que promovem saciedade e aumento da produção de grelina, hormônio relacionado ao aumento do apetite. Por isso, quando se visa perda de peso, não adianta apenas se exercitar, é fundamental também se atentar para a dieta, em especial à quantidade de calorias ingeridas por dia.

Então, é correto dizer que comemos mais quando praticamos mais exercícios? De acordo com Filipe Cortez, um dos fatores relacionados a maior ingesta de calorias após início de um programa de exercício é a modulação dos hormônio relacionados ao apetite. A grelina é um hormônio orexígeno, ou seja, que provoca fome. Já a leptina é um hormônio anorexígeno, que estimula a saciedade.

– Dessa forma, o exercício leva a uma perda maior de calorias, e o corpo entende isso como um estímulo para comer mais, repondo as calorias perdidas. Isso acontece por meio de uma maior liberação de grelina e redução dos níveis de leptina, aumentando a fome e diminuindo a saciedade. Ou seja, mais exercício, teoricamente, levaria a um maior aumento de grelina e menores níveis de leptina, levando a mais atitudes compensatórias – explica o médico do esporte.

Entretanto, não foram exatamente esses os resultados observados no estudo, principalmente em relação à leptina. Na verdade, níveis mais baixos desse hormônio foram associados a menos atitudes compensatórias, provavelmente porque o exercício aumenta a sensibilidade à leptina, sendo necessário menos leptina para promover saciedade. Em relação à grelina, observou-se que menores níveis desse hormônio estavam relacionados a uma maior perda de gordura, o que é condizente com seu efeito orexígeno (que provoca fome).

Em relação à alta frequência de exercício e à melhor regulação da vontade de comer, como os próprios autores do estudo sugerem, o endocrinologista Ricardo Oliveira aponta que talvez exista um limite acima, no qual a quantidade de exercícios sofra menos uma alteração compensatória em relação ao consumo calórico. Ou exista uma espécie de “teto” para esse aumento de ingesta compensatório. Talvez possa existir também uma combinação de ambos. Existem trabalhos, ainda, que correlacionam atividade física crônica com uma melhor regulação do chamado sistema de recompensa alimentar. Além do fator psicológico, onde após muito esforço realizado numa atividade física é natural que exista uma sensação de “não querer jogar tudo a perder”.

Compensação energética a partir de exercícios

Praticar exercícios traz inúmeros benefícios para o corpo e para a mente. Isso porque são vários os tipos de hormônios liberados na atividade física em sua corrente sanguínea. Foto: Internet

De acordo com Ricardo Oliveira, a realização de atividade física, assim como perda de peso por si só, leva a mecanismos compensatórios que fazem parte de todo o processo da evolução da espécie humana.

– É fundamental entender que nossa capacidade de ingerir calorias é muito maior do que nossa capacidade de gastar calorias. Por isso, no tratamento de sobrepeso/obesidade, é importante uma combinação entre atividade física regular e controle dietético. Vale ressaltar, ainda, que a prática de atividade física promove uma série de benefícios para a saúde que vão muito além da perda de peso, devendo ser sempre estimulada pelos profissionais da saúde – destaca o endocrinologista.

Como foi observado no estudo, portanto, essa compensação energética de fato acontece e pode corresponder a até 50% das calorias gastas durante o exercício.

Por: Marina Borges, para o Eu Atleta — Bauru, São Paulo

Fonte: Ricardo Oliveira, endocrinologista

Filipe Cortez, médico do esporte

Transcrito: https://globoesporte.globo.com/eu-atleta/saude/noticia/exercicios-ajudam-a-regular-o-hormonio-da-fome-no-organismo.ghtml

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