Café faz mal? Veja mitos, verdades e entenda benefícios
No Dia Nacional do Café, especialistas apontam que, para a maioria das pessoas, o consumo da bebida não faz mal e, na verdade, pode trazer diversos benefícios
Neste sábado, 24 de maio, é celebrado o Dia Nacional do Café. Presente no dia a dia de milhões de brasileiros, o cafezinho é mais que apenas uma bebida saborosa. Com o avanço das pesquisas sobre as diversas substâncias presentes no café, hoje já se sabe que uma simples xícara pode produzir diversos efeitos sobre o organismo. E, com isso, também se multiplicam as dúvidas sobre os benefícios e riscos do consumo da bebida.
O EU Atleta consultou especialistas que explicam que, na maioria dos casos, beber café não faz mal e pode até trazer benefícios à saúde. No entanto, elas destacam que o consumo pode ser contraindicado para algumas pessoas e que é preciso tomar cuidado com o exagero na quantidade. Confira, a seguir, os principais dados sobre o impacto do café na saúde.
Entenda como o café age no corpo
Xícara de café – Foto:(Reprodução/Internet)
Boa parte dos efeitos atribuídos do café depende da cafeína, uma substância ativa que atua diretamente no sistema nervoso central. Seu efeito se inicia entre uma hora e uma hora e meia após o consumo, e sua meia-vida ou seja, o tempo em que permanece ativa no organismo é de quatro a cinco horas.
Do ponto de vista fisiológico, o principal mecanismo de ação da cafeína é o bloqueio dos receptores de adenosina, um neurotransmissor associado ao relaxamento e ao prazer. Ao ocupar esses receptores, a cafeína impede a adenosina de exercer sua função de “desacelerar” o corpo, mantendo o sistema nervoso central e outros sistemas, como o cardiovascular, o renal e o imunológico, em altos níveis de atividade.
O resultado é uma ativação generalizada do organismo, com aumento da disposição e do estado de alerta. Esse efeito ainda é potencializado por outras substâncias presentes na bebida, como a teofilina e a teobromina.
Os benefícios do café
Mulher toma café antes de ir para a academia – Foto:(Reprodução/Internet)
Há diversos estudos que demonstram efeitos positivos do consumo de café. De acordo com as especialistas ouvidas pelo EU Atleta, eles vão desde o ganho de performance em atividades físicas até a prevenção de doenças crônicas. Veja abaixo os principais benefícios.
– Desempenho nos exercícios
No contexto da atividade física, o café pode ser um aliado, pois ajuda na concentração, reduz a percepção do esforço e aumenta o estado de alerta. A cafeína também estimula a liberação de dopamina, neurotransmissor que auxilia no controle de tremores. Por essas razões, muitos suplementos pré-treino têm a substância em sua composição. A nutróloga Mariana Brito cita, ainda, um outro efeito importante nesse aspecto:
— Estudos mostram que ela pode aumentar a liberação de adrenalina e favorecer o uso de gordura como fonte de energia, sendo útil antes de treinos, especialmente aeróbicos ou de resistência afirma.
– Ação antioxidante
antioxidante, contribuindo para a redução dos danos celulares provocados por estresse, exercícios intensos, exposição solar, cigarro e até medicamentos. Esses efeitos estão associados à prevenção de doenças relacionadas ao envelhecimento, como hipertensão, doenças coronarianas, acidente vascular cerebral (AVC), insuficiência cardíaca e arritmias.
– Controle do diabetes
O café pode ajudar a reduzir os níveis de açúcar no sangue, tanto na forma com cafeína quanto na versão descafeinada. Também há evidências de que as substâncias ativas protegem o fígado, reduzindo o risco de doenças como esteatose hepática (gordura no fígado), fibrose, cirrose e outras.
– Prevenção do Parkinson
A cafeína ajuda a atenuar sintomas motores (como tremores) e não motores (como depressão e perda de memória) associados à doença de Parkinson. No entanto, os benefícios são mais evidentes em homens, já que o estrogênio feminino pode interferir na ação da substância.
– Proteção da memória
Estudos observacionais sugerem que o consumo de uma a duas xícaras de café por dia pode retardar o declínio da memória associado ao envelhecimento. Isso inclui também a prevenção de demências como o Alzheimer, devido à ação do café na proteção contra alterações cerebrovasculares.
Conheça a nossa linha de produtos na pagina em exibição no INSTAGRAM clique na imagem acima
Os riscos associados ao café
Embora o café tenha propriedades benéficas e esteja relacionado à prevenção de algumas doenças, o consumo excessivo pode provocar efeitos prejudiciais, como insônia, taquicardia, ansiedade, irritabilidade, desconfortos gastrointestinais e dependência.
De acordo com a nutricionista Michele Trindade, a influência negativa sobre o sono ocorre justamente por causa da meia-vida prolongada e da ação contínua da cafeína no sistema nervoso
— Ao ingerir café por volta das 15h, a cafeína ainda estará ativa até às 19h ou 20h, o que pode interferir no sono, especialmente em pessoas que têm dificuldade para dormir. Por isso, o recomendado é evitar o consumo de substâncias cafeinadas após esse horário explica a especialista.
Além disso, quando consumido em excesso, o café mantém o sistema nervoso constantemente estimulado, o que pode levar à adaptação dos receptores cerebrais e, por consequência, à necessidade de doses cada vez maiores para se obter o mesmo efeito, caracterizando dependência.
— Os benefícios cognitivos estão associados a doses moderadas, entre uma e duas xícaras diárias. Doses maiores podem gerar tolerância e reduzir os efeitos positivos, exigindo consumo cada vez maior destaca.
A médica nutróloga Mariana Brito ressalta, ainda, que pode haver conexão entre o consumo excessivo da bebida e outros problemas pré-existentes.
— O consumo de café pode ser um problema especialmente quando está sendo usado como “muleta” para mascarar cansaço crônico ou falta de sono alerta a médica.
Saiba qual é a quantidade ideal de café por dia
A quantidade ideal gira em torno de uma a três xícaras por dia, especialmente para obter os efeitos positivos relacionados à saúde cardiovascular e cerebral. Acima disso, há maior risco de vício, além de efeitos colaterais já citados.
Caso seja necessário reduzir o consumo, a recomendação é fazer isso de forma gradativa, para evitar o chamado “efeito rebote”, que pode incluir sonolência excessiva, dores de cabeça, irritabilidade e fadiga, decorrentes da ausência do estímulo ao qual o organismo estava habituado.
Veja mitos e verdades sobre o café
Café vicia? Verdade. O organismo, ao perceber o bloqueio contínuo dos receptores de adenosina pela cafeína, tende a criar novos receptores para restabelecer o equilíbrio. Isso faz com que sejam necessárias doses cada vez maiores para atingir o mesmo nível de estimulação, num mecanismo semelhante ao que existe em outros tipos de vício.
Crianças não devem tomar café? Verdade. Para elas, o consumo deve ser extremamente restrito, pois o sistema nervoso central infantil ainda está em desenvolvimento e não está preparado para receber o estímulo da cafeína.
Café faz mal para idosos? Depende. Nos idosos, o consumo de café deve ser monitorado. Muitos fazem uso de vários medicamentos e a cafeína pode interagir com eles, alterando a eficácia ou aumentando efeitos colaterais. Além disso, idosos tendem a dormir menos devido ao próprio processo de envelhecimento e a cafeína pode piorar a insônia.
Gestantes e lactantes devem moderar o consumo de café? Verdade. Para gestantes, recomenda-se cautela e o consumo deve ser limitado. Isso porque a cafeína pode atravessar a barreira placentária, sendo passada para o feto. Há estudos indicando que recém-nascidos de mães que consomem café em excesso podem apresentar maior agitação nos primeiros dias de vida, por exemplo. Mesmo durante a lactação, o cuidado deve ser mantido, já que a cafeína pode ser transferida para o bebê pelo leite materno.
Café engorda? Mito. O café, por si só, não tem calorias e, dessa forma, não tem como contribuir para o ganho de peso. A bebida só se torna calórica se forem adicionados açúcar, leite, creme ou outros ingredientes.
Café com leite causa menos efeitos colaterais? Mito. A adição de leite, açúcar ou outros ingredientes não interfere na ação da cafeína — apenas torna a bebida mais calórica. Para quem já tem predisposição a sofrer com efeitos colaterais do café, a mistura com leite não resolve.
Café emagrece? Mito. O café produz um leve efeito termogênico e, em tese, poderia contribuir para o emagrecimento. No entanto, a nutricionista Michele Trindade explica que esse aumento no gasto energético proporcionado pelo café é de apenas 1 a 2%. Considerando uma pessoa com gasto basal de 1.500 calorias diárias, esse acréscimo seria de apenas 10 a 15 calorias, valor irrelevante para a perda de peso a médio ou longo prazo.
Café melhora a ressaca? Mito. O efeito estimulante pode até auxiliar na concentração, por exemplo. No entanto, boa parte dos sintomas da ressaca é causada pela desidratação, e o café pode até agravar esse quadro ao acelerar o trabalho dos rins e a eliminação de água pela urina.
Muito café dá dor de cabeça e ansiedade? Verdade. O excesso de cafeína no organismo pode causar dor de cabeça e ansiedade devido à aceleração do sistema nervoso, mas o contrário também é verdade. Para quem está habituado a tomar muito café, a falta dele pode causar um desconforto ainda pior.
Tomar café em jejum faz mal? Depende. Pessoas com o estômago sensível podem ter uma sensação de queimação ou irritação devido à acidez da bebida. Mas, para a maioria, não há problema.
É melhor tomar café depois das refeições? Mito. O consumo de café após as refeições pode reduzir em até 40% a absorção de ferro pelo organismo, o que pode contribuir para a chamada anemia ferropriva em pessoas que já têm tendência a apresentar o problema ou consomem quantidades muito baixas de ferro na dieta.
Café irrita o estômago e solta o intestino? Verdade. O café pode estimular a produção de ácido gástrico, o que acelera o esvaziamento do estômago e o trânsito intestinal. Isso pode ser positivo para quem tem constipação, mas também pode causar desconforto ou azia em pessoas com gastrite ou refluxo. Em caso de problemas digestivos mais graves, o consumo de café pode ser até mesmo contraindicado.
Café pode fazer mal para quem tem problemas cardíacos? Depende. Como estimulante, a cafeína também altera o ritmo dos batimentos cardíacos. Um dos sintomas mais comuns do consumo excessivo é a taquicardia, ou sensação de coração acelerado. Indivíduos com hipertensão ou arritmia fora de controle também podem ter esses problemas agravados. Contudo, vale lembrar que, em pessoas sem problemas cardíacos, o consumo de café pode até ajudar a controlar a pressão.
Compartilhe com os amigos essa matéria via:
WhatsApp Face Book e Telegram
Por: Diogo Bugalho, para o EU Atleta — Rio de Janeir
Fonte: Mariana Brito é médica nutróloga especialista em medicina funcional. Atua em São Paulo.
Michele Trindade é nutricionista e professora de Educação Física, com doutorado pela USP. É vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrição Esportiva (ABNE), docente da Universidade Estadual de Maringá (UEM) e consultora da Associação Brasileira de Nutrição (ASBRAN).
Transcrito: https://ge.globo.com/eu-atleta/nutricao/reportagem/2025/05/24/c-cafe-faz-mal-veja-mitos-verdades-e-entenda-beneficios.ghtml