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Sete motivos explicam por que 51% dos brasileiros estão acima do peso

Alimentos industrializados, álcool e comer fora são alguns vilões do ganho de peso

Em 1974, somente 28,7% das mulheres e 18,5% dos homens brasileiros estavam com excesso de peso, segundo dados do IBGE. Em 2015, constatou-se que 56,9% da população acima de 18 anos está com sobrepeso, de acordo com a Secretaria da Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

A obesidade também aumentou consideravelmente, em 1974 somente 8% das mulheres e 2,8% dos homens tinham IMC (índice de massa corpórea) igual ou maior que 30. Já em 2013 o índice subiu para 17% da população. O excesso de peso e obesidade aumentam as chances de uma série de problemas como: diabetes, hipertensão, colesterol alto e acidente vascular cerebral.

Diante de um quadro tão alarmante, surge a questão: Por que a população engordou tanto nos últimos anos? Conversamos com especialistas a fim de entender as principais causas do ganho de peso. Confira e veja como melhorar seus hábitos.

Alimentos ultraprocessados

Os alimentos ultraprocessados são aqueles modificados pela introdução de substâncias que alteram significativamente sua natureza ou seu uso e por formulações realizadas a partir de ingredientes industriais que normalmente contam com pouca ou nenhuma participação de alimentos. Exemplos destas comidas e bebidas são: refrigerantes, sucos industrializados, bolachas e salgadinhos.

Estes alimentos contribuem para o ganho de peso por serem nutricionalmente desequilibrados. Eles normalmente possuem grandes quantidades de sódio, açúcar, gordura saturada e trans, conservantes e calorias.

Além de proporcionarem o maior ganho de peso, estes componentes também favorecem uma série de problemas como diabetes, colesterol alto, complicações cardiovasculares, hipertensão, alergia, câncer, doenças renais, acidente vascular cerebral, entre outros.

Fora a questão nutricional, eles também contribuem para o ganho de peso devido a praticidade. “Estes alimentos permitem o consumo praticamente a toda a hora, você não come arroz e feijão andando na rua, por exemplo, mas com um salgadinho isto é possível. O que engorda é comer mais do que precisa e por terem tantos problemas nutricionais e serem fáceis de ingerir, os alimentos ultraprocessados causam isto”, diz a nutricionista Inês Rugani Ribeiro de Castro, professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio Janeiro.

Infelizmente, este tipo de alimento está cada vez mais presente na dieta do brasileiro. “A média no país é que 30% da população tem como base em sua alimentação produtos ultraprocessados”, conta Castro. Ao ingerir maior quantidade destes alimentos, as pessoas deixam de consumir opções saudáveis, como frutas, legumes, verduras, cereais e leguminosas.

Maiores quantidades

Além de comer mal, as populações também estão ingerindo quantidades maiores. “O aumento da obesidade nos últimos 30 anos coincidiu com o crescimento do tamanho das porções tanto dentro quanto fora de casa, especialmente em estabelecimentos de fast food”, conta a nutricionista clínica funcional e sanitarista Ana Paula Machado Lins, do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto Nacional de Diabetes e Endocrinologia.

Um estudo realizado pelo U.S. Department of Health and Human Services e National Institutes of Health, ambos dos Estados Unidos, concluiu que as quantidades dos alimentos aumentaram nos últimos 20 anos. O hambúrguer passou a ter em média 257 calorias a mais, passando de 333 calorias para 590 calorias. Já o macarrão com almôndegas ganhou 525 calorias a mais em média. Antes o prato contava com 500 calorias e atualmente ele tem 1025 calorias.

Com os alimentos ultraprocessados, a quantidade de calorias nas porções aumentou. Uma porção de 100 gramas de arroz cozido, por exemplo, possui 128 calorias, enquanto a mesma quantidade de biscoito salgado cream cracker conta com 432 calorias. Então, quando a troca de um alimento saudável por um processado é feita, por mais que a pessoa ingira a mesma quantidade dos alimentos, o ganho de calorias, açúcar e gorduras é maior.

Excesso de álcool

Segundo o último Levantamento Nacional de Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo, a proporção de bebedores de álcool frequentes, que consomem a bebida uma vez por semana ou mais, aumentou 20% em 2012 em comparação com 2006. Antes 45% da população brasileira era bebedor frequente, em 2012 o índice subiu para 54%.

O aumento do consumo de álcool ao longo dos anos também contribuiu para que a população engordasse. “O componente que tem a maior quantidade de calorias por grama é a gordura e depois vem o álcool que tem o dobro de calorias que carboidratos e proteínas”, explica o endocrinologista Mario Carra, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO).

A gordura possui nove calorias por grama, enquanto o álcool conta com sete calorias. O carboidrato e a proteína possuem quatro calorias. “O álcool tem prioridade no metabolismo alterando outras vias metabólicas, incluindo a oxidação lipídica, o que favorece o estoque de gordura no organismo. Ele também impede, em alguns casos, a absorção de nutrientes”, diz Lins.

Não cozinhar os próprios alimentos

Cozinhar os próprios alimentos pode proporcionar uma refeição mais saudável, com menos calorias, gorduras, açúcar, sódio, entre outros – isso, claro, se na hora de cozinhar houver a preocupação de reduzir as quantidades desses itens. “Muitas vezes quando se faz refeições fora de casa, um simples feijão, por exemplo, pode conter carnes salgadas e gordurosas, outras preparações são feitas também desta forma, incorporando gorduras e sal em excesso, mesmo que de maneira imperceptível”, explica Lins.

Os alimentos prontos também não são boas alternativas. Isto porque eles possuem altas quantidades de sódio, que pode dificultar o funcionamento de órgão como o coração e rins, além das altas quantidade de gorduras, calorias e açúcar. Desta maneira, comer fora ou ingerir pratos prontos pode contribuir para o ganho de peso.

Além de evitar que as pessoas engordem, saber cozinhar foi considerado uma prática emancipatória pelo Marco de Referência de Educação Alimentar e Nutricional para as Políticas Públicas do Ministério do Desenvolvimento Social e de Combate à Fome. Segundo o marco, cozinhar gera autonomia, permite praticar as informações técnicas e amplia o conjunto de possibilidades o indivíduo. A prática culinária também facilita a reflexão e o exercício das dimensões sensoriais, cognitivas e simbólicas da alimentação.

Trocar refeições por lanches

Não dedicar um tempo para a alimentação e trocar o arroz, feijão, carne e salada pelo sanduíche são hábitos que o brasileiro adota com cada vez mais frequência e que contribui para o ganho de peso.

Ingerir um lanche no almoço ou jantar é prejudicial porque normalmente conta com menos nutrientes e mais calorias. “A troca é sempre ruim, pois não conseguimos compor uma dieta completa, com todos os nutrientes de uma refeição, a maior parte das pessoas tende a achar que lanche emagrece mais do que um prato, mas isto não é verdade”, afirma Lins.

Comer estes lanches enquanto assiste televisão, trabalha ou se desloca de um local para o outro contribui ainda mais para engordar. “O saborear a comida ajuda a manter o mecanismo de fome e saciedade equilibrados, quando você come com falta de atenção há o risco de ingerir mais alimentos do que deveria”, conta Castro.

Ambientes que favorecem a obesidade

Não são apenas os hábitos, mas o local em que a pessoa vive também influencia o excesso de peso da população. “Vivemos no chamado ambiente obesogênico em que tudo é oferecido em porções maiores, por exemplo, você vai no cinema e a pipoca pequena custa cinco reais, enquanto a mega é apenas um real mais cara”, diz Carra.

Segundo alguns estudiosos, temos quatro ambientes na sociedade, o físico, o econômico, que envolve a questão de preços, o político, que constitui as regras, e o sociocultural, os valores daquela população. “Quando falamos de ambiente obesogênico são todos esses ambientes estruturados de uma determinada maneira que favorece a obesidade e dificulta o acesso a alimentos saudáveis”, explica Castro.

Algumas questões que caracterizam o ambiente obesogênico são: alimentos calóricos disponíveis em diversos locais, como em casa, supermercados, escolas, trabalho, restaurantes, farmácias, entre outros; dificuldade em encontrar alimentos saudáveis como frutas e vegetais; a falta de oportunidade para realizar atividades físicas, poucos espaços para o lazer, por exemplo; as grandes quantidades de comidas oferecidas, as porções enormes e baratas, entre outros fatores.

Sedentarismo

Os novos eletrodomésticos, a maior aquisição de carros pela população e a falta de atividades físicas ao ar livre fez a população se tornar mais sedentária. “Sabemos que os exercícios diminuíram bastante porque temos cada vez mais um processo em que dependemos de coisas eletrônicas e ficamos parados, trabalhamos sentados, nos transportes também não nos movemos muito e a falta de exercícios no tempo livre diminuiu”, observa Lins.

Assim, quando a pessoa consome mais calorias do que ela gasta ocorre o ganho de peso. “O sedentarismo explica uma parcela do sobrepeso, mas a mudança na tecnologia dos alimentos, como os ultraprocessados, tem uma influência maior. Nos últimos dez anos modificamos mais a nossa alimentação do que a atividade física”, conclui Castro.

Por: BRUNA STUPPIELLO

Fonte: Inês Rugani Ribeiro de Castro,nutricionista professora associada do Instituto de Nutrição da Universidade do Estado do Rio Janeiro.

Ana Paula Machado Lins,nutricionista clínica funcional e sanitarista do Grupo de Obesidade e Transtornos Alimentares do Instituto Nacional de Diabetes e Endocrinologia.

Mario Carra, endocrinologista presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO)

Transcrito: http://www.minhavida.com.br/alimentacao/galerias/17239-sete-motivos-explicam-por-que-51-dos-brasileiros-estao-acima-do-peso/7

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